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Missão nas Estrelas Teste

domingo, 28 de julho de 2013

Missão nas Estrelas II Curiosidades e aguardem o próximo episódio

Enquanto preparo o novo episódio, aqui estão algumas curiosidades da série de contos que comecei na minha adolescência e agora reescrevo para dividir com vocês.
A Viagem da Espaçonave Horizontes antes de ser reescrita chamava-se de O Novo Reino e foi o episódio que começou com a série. O leitor vai questionar a numeração das narrativas que escolhi. Para ela, decidi considerar os episódios O Império Estelar e A Ameaça do Horizonte como únicos, embora sejam duas histórias e escritas com um ano de diferença.
Nessa história, tivemos o retorno do personagem Ender Shin. Envelhecido e já no posto de Almirante da Armada Espacial, ele recebe ordens para voltar a capitanear a nave Horizontes, construída em segredo faz noventa e cinco anos na cronologia da série e encontrar um planeta onde haveria uma civilização com poder o suficiente para derrotar Zark. Como o alienígena, comentou: “Vieram atrás de um milagre”. Podem achar estranho, mas foi isso mesmo. O achar que conseguindo encontrar uma espécie de deus as coisas poderiam ser resolvidas num passo de mágica. Essa ideia surgiu-me enquanto eu reescrevia a estória e fazem parte das mudanças durante o processo de reescrita. A ideia original era que Ender Shin procuraria por esse sistema por uma civilização que se aliasse à Liga Interplanetária e pudesse derrotar Zark através de um conflito em conjunto.
A ideia de Império vem de Star Wars, porém em muitas narrativas de Sci-Fi vários impérios galácticos foram criados. A origem da concepção, segundo um livro de crítica literária para Ficção Científica está na inspiração de autores no reinado da Rainha inglesa Elisabeth I e suas políticas imperialistas. O mais conhecido na literatura deve ter sido o Império Galáctico que ruiu nos fantásticos e emocionantes episódios da série Fundação do Isaac Asimov. A concepção e origem de Zark na série Missão nas Estrelas ainda não foi totalmente desenvovida.
Bem, voltando a tratar da narrativa. Ela se passaria em outra galáxia e cinco bilhões de anos antes de nossa existência. Tinha escrito: “...o universo tem apenas dez bilhões de anos” e não quinze ou vinte como nossos astrofísicos teorizam, conforme observações de estrelas antigas. Preferi transferir tudo para a Via Láctea.
O setor de Épisilon Eridani. A estrela encontra-se há 10,5 anos-luz. É uma anã alaranjada e foi pesquisada na procura por vida inteligente através da radioastronomia em 1960. Decidi ao reescrever colocar o cenário Estrela de Mira nessa região. É preciso imaginar um cubo e colocar estrelas em seu interior, sugiro, para melhor compreender. Isso corresponde a um setor, divisão usada na série pela Liga Interplanetária ao mapear a galáxia para facilitar a navegação.
O Império Zark, mesmo depois de sua repentina aparição em A Ameaça do Horizonte e noventa e cinco anos depois ainda é incompreendido, pois não defini suas características principais ainda, excetuando uma profunda relação com a Civilização Escorpiana que apareceu nas narrativas anteriores e é a espécie do General Kalar. Nesse episódio, além desse personagem podem ser vistos em duas ilustrações a bordo da nave Horizontes.
O salto interestelar mais rápido q ue a velocidade da luz não pode ser executado devido à limitações impostas pelo universo, cuja explicação encontra na Teoria da Relatividade Especial. Nenhum corpo pode ser mais rápido que a velocidade da luz. Bem, mas não há nada fisicamente que impeça viajar a velocidades próximas dela. Eu, por necessidades da trama na série, decidi que pela quinta dimensão, dentro dos buracos de vermes as espaçonaves como a Horizontes excederiam esse limite. Na trama as leis que regem o hiperespaço diferem um pouco das do universo físico, o qual temos consciência. Isso se chama de tecno baboseiras. Concepções ou conceitos científicos inventados por escritores de Ficção Científica para reger a trama e impor ou exceder limites impossíveis para a realidade.
A título de curiosidade, essa foi a segunda vez que a nave Horizontes apareceu como cenário e a primeira vez demonstrando a sua utilização. Nos próximos dois episódios, ela não mais aparecerá. O estrago foi tão grande que passará meses no estaleiro para reparos. Os desenhos dela foram praticamente refeitos literalmente, principalmente o da cena em que ela passa pela frente do sol e é interceptada pela nave discoide. Escaneei a nave do quinto episódio que está sendo escrito e ao apagar os elementos problemáticos e refazer os traços antes de colorizar inseri o novo elemento. As ilustrações originais foram feitas a lápis em 2002 e todas são em preto e branco. Aqui está o desafio que espero conseguir continuar.

Aos leitores minha gratidão.
Aceito críticas e sugestões de bom grado. Elas podem ser feitas pelo e-mail da página de créditos.

http://universofantasticodeijsantim.blogspot.com.br/2013/01/missao-nas-estrelas-ii-viagem-da.html

sábado, 20 de julho de 2013

Uma Breve História do Computador e da Internet

Uma Breve História da Informática
Antes de falar do significa do termo cibercultura é necessário historicizar sobre o surgimento da informática que transformou as relações humanas. O computador pessoal (Personal Computer ou PC) foi uma invenção que se transformou ao longo de décadas de pesquisa por parte de governos e de empresas privadas. Inicialmente, os computadores foram fabricados para propósitos militares e científicos. O ENIAC, primeiro computador moderno, usado pela Marinha dos Estados Unidos desde 1947 era tão grande que exigia milhares de válvulas, ocupava uma grande sala e fazia muito barulho. Outro conhecido na época foi o Colossos usado durante o fim da Segunda Guerra Mundial para desencriptar os códigos alemães graças aos esforços do matemático Alan Turing e de seus colegas, um dos fatores que garantiram a vitória dos aliados contra o Eixo.
Nesse período, os primeiros computadores não eram muito confiáveis, pois demandavam muita energia e superaqueciam, mas isso foi mudando com a invenção do transistor em 1947 após os sucessos dos experimentos da física de supercondutores realizados pela Bell Laboratories. Seus projetistas foram John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley. Esse componente era fabricado a partir do germânio que depois Gordon Teal substituiu por silício e denominado de “chip”, nome que rapidamente se popularizou. A empresa que passou a fabricá-lo com a nova matéria-prima foi a Texas Instruments em 1954. A miniaturização das peças a partir do surgimento do circuito integrado, um chip de silício com 2250 transistores miniaturizados, possibilitou o desenvolvimento de computadores mais potentes e mais baratos, porém isso demorou para acontecer. O barateamento do chip RAM (memória de acesso randômico) tornou-se evidente quando a Intel o introduziu no mercado em 1970 graças ao seu fundador Robert Noyce que notou a possibilidade desse componente estimular a tecnologia digital em detrimento da analógica.
A história do surgimento da memória data por volta de 1940, mas a inserção da memória de núcleo magnético nos computadores só aconteceu em 1953 graças a Forrester. A primeira linguagem de programação interna foi inventada pelo engenheiro alemão Konrad Zuse que a chamou de Plankalku, porém ele foi esquecido e os inventores mais lembrados foram John Backus que criou a FORTRAN (Sistema de Tradução de Fórmula) e Bob Taylor e Alan Kay da Xerox fundada em 1970 que inventaram o mouse.
É curioso que os primeiros computadores vendidos no mundo ainda em 1950 eram britânicos, porém suas empresas não prosseguiram com o seu desenvolvimento pela falta de garantias oferecidas pela escala do mercado norte-americano. Cabe lembrar que esse era o período mais tenso da guerra fria, portanto tanto americanos como os soviéticos priorizaram o desenvolvimento de suas máquinas para realizar trabalhos em sistemas militares como orientações de sistemas de mísseis e avançar com os programas espaciais e navais. Em 1964, o Japão também entrou na corrida para construir seu computador e com o transistor a Sony lançou a primeira televisão transistorizada e o walkman, alterando o modo de ouvir música e influenciando as invenções futuras como o telefone celular.
O filósofo Pierre Lévy em Cibercultura (1999) abordou o desenvolvimento do microprocessador, citando a lei de Gordon Moore, cofundador e presidente da Intel, que afirmou haver um o número de transistores colocados em um chip dobraria a cada dezoito meses, aumentando assim a velocidade de processamento de dados e a capacidade de armazenamento. Quando se tornou possível miniaturizar os componentes usados na fabricação dos computadores através do silício e o microchip foi inventado empresas como a Atari, a IBM e a Apple Macintoch passaram a comercializar os primeiros computadores pessoais. Foi entre o fim da década de 1970 e início de 1980 que eles se popularizaram. O autor destacou sucintamente os progressos tecnológicos que garantiram o surgimento da informática, a presença de seus componentes em todos os equipamentos eletrônicos automatizados, o advento da comunicação móvel por celulares etc.
Foi a partir de 1974 e de 75 que os primeiros computadores pessoais surgiram com os lançamentos comerciais da Radio Elettronics e da Popular Eletronics, porém os modelos que se popularizaram foram Apple I e II que tinham capacidade de realizar várias tarefas. Depois foi a vez da IBM inserir o seu primeiro computador pessoal no mercado em 1981. Antes de a Microsoft ser fundada por Bill Gates aos 19 anos de idade, os computadores, tanto pessoais como profissionais, existentes no ano de 1984, cerca de meio milhão de máquinas no mundo, eram incompatíveis entre si e todos rapidamente se tornavam obsoletos. Os desevolvedores como Bill Gates descobriram que a chave para aumentar o uso deles e difundi-los ainda mais eram os programas. Nesse ano, a IBM encomendou um sistema operacional à recém-fundada Microsoft e seu fundador viu nisso a chance de enriquecer criando um programa que pudesse ser usado para controlar as operações da maioria dos computadores. A Microsoft conseguiu se tornar a maior empresa do mundo a partir da venda do Windows em todas as partes do mundo e o “PC” começou a se socializar. Nesse sentido, não se pode deixar de fora também o Unix elaborado em 1991 e serviu de base para os sistemas operacionais conhecidos como Linux, cuja arquitetura é usada também para controlar outras ferramentas.
Em 1995, a Microsoft lança o navegador Internet Explorer para competir com o Netscape Navigator, iniciando assim uma disputa por quem dominaria a navegação pela Internet moderna que recém havia sido estabelecida. Esses feitos garantiram a conclusão da estruturação da informática e a interconexão mundial através do ciberespaço, onde, conforme Lévy (1999), constituiu-se a inteligência coletiva, graças a organizações de comunidades virtuais. O próximo item desenvolverá resumidamente a história da Internet e o conceito de ciberespaço.
Uma Breve História da Internet
William Gibson foi o primeiro escritor a usar o termo “ciberespaço” em seu romance de ficção científica Neromancer, um universo cheio de redes digitais que representava a nova fronteira econômica e cultural e onde aconteciam as batalhas entre as multicionais. Alguns heróis conseguiam entrar fisicamente nesse mundo. Os conceitos foram usados na trilogia de cinema Matrix em 1999, mas ainda nos anos 80 os criadores de mídia digitais e usuários adotaram o nome. Porém, a história da internet é mais antiga.
A primeira rede que se pode chamar de pré-internet foi estabelecida entre 1968-69 com o apoio financeiro do governo dos Estados Unidos através do Departamento de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa (ARPA) fundado em 1957 como uma resposta ao lançamento do primeiro satélite Sputnik. Inicialmente, a Arpanet era uma rede que compartilhava informações entre universidades e outras instituições de pesquisa. A ideia do Pentágono era conseguir construir uma rede que pudesse transmitir informações em segurança, mesmo se toda a infraestrutura de comunicações fosse destruída por um ataque nuclear. Em 1975 ela foi renomeada como Darpa e as mensagens de e-mail passaram a ser base das comunicações. Surgiu nesse período a Fundação Nacional de Ciências (NFS) que usou uma linguagem familiar para trocas de informações entre pesquisadores distantes, constituindo a Rede de Pesquisa da Ciência da Computação (CSNET). Em 1985 a Darpa foi ligada a essa rede. Faltava a infraestrutura comercial nos Estados Unidos, a qual a NSF não se interessava e não tinha condições de financiar. Cogitava-se ainda no final de 1970 de estender a rede para o mundo todo. Nessa década, enquanto as mensagens de e-mails circulavam apenas no meio acadêmico o símbolo @ foi introduzido e em 1986 surgiu a abreviação “com” para comércio, “mil” para forças armadas e “ed” para educação.
A maior contribuição para a criação da Internet não veio dos Estados Unidos, mas de um laboratório europeu de pesquisas nucleares, o CERN situado na fronteira da França com a Suíça. Em 1989 Tim Berners-Lee imaginou a World Wide Web que não teria proprietário e seria livre e ganhou um grau honorário da Universidade Aberta da Grã-Bretanha que iniciou o ensino a distância, o qual a nova ferramenta depois de décadas viria auxiliar. De fato, graças a ela foi possível o desenvolvimento de hiperlinks, o destaque de palavras ou símbolos dentro de documentos que servisse para clicar e manutenção da rede aberta sempre, conforme explicaram Asa Briggs e Peter Burke (2004). Os sites proliferaram-se com a invenção e o acesso foi simplificado.

Novas Tendências Culturais e Educacionais
Com as tecnologias digitais da informação, a novas tendências culturais e estilos artísticos surgiram. O filósofo francês Pierre Lévy discutiu sobre a arte produzida pela cibercultura que surgiu a partir de 1980. Ele disse que com o surgimento da digitalização um novo estilo musical surgiu, a música eletrônica. Ele a define e explica como se faz a sua produção. A mixagem e o sampling são os processos usados. Normalmente, pega-se uma música já pronta e substitui-se os sons produzidos pelos instrumentos musicais por eletrônicos, produzidos por computador, limitando a originalidade e a criatividade, pois não se está criando música nova, mas transformando a atual. O autor destacou que as mudanças nos estilos musicais aconteceram, conforme novas técnicas foram surgindo. Isso ficou evidente com as gravações eletrônicas que permitiu a dublagem por muitos intérpretes.
O filósofo falou do autor como peça importante para dar sentido à obra ao concluí-la. Juridicamente, a questão da propriedade da obra virtual é um problema ainda sem consenso a ser solucionado pelo Estado, pois a jurisdição depende do local onde se encontra o servidor. Aqui cabe destacar que a obra virtual pode ser um acontecimento, uma imagem e sua construção continua indefinidamente, porém a originalidade torna-se questionável.
A rede tornou-se um espaço livre de comunicação. Pensando no Direito, ela poderia ser considerada, metaforicamente, uma “terra sem lei”, onde tudo pode porque não haverá punição. Lévy citou Bill Gates que afirmou na possibilidade de o ciberespaço virar um grande mercado planetário e conjecturou no surgimento do verdadeiro liberalismo. Hoje, após a concretização dessas previsões, sabe-se que os dados estando num servidor nacional a legislação vigente no país pode ser aplicada.
O filósofo também descreveu sobre as novas formas de educação surgidas após o advento da virtualidade. A Educação Aberta à Distância (EAD). A questão é a qualidade do saber nessa modalidade de ensino. Usar somente os meios informáticos de pesquisa e ensino, sem aulas presenciais, garantiria a formação de futuros bons profissionais? Nos últimos anos, aqui no Brasil, tem se visto a proliferação de cursos EAD, pois são mais baratos e a universidade não precisa investir em uma grande infraestrutura cara, garantindo mensalidades mais baratas.
Ele também respondeu às indagações sobre a substituição do velho pelo novo. Existe o medo de que a ascensão da comunicação pelo ciberespaço substitua o contato humano direto. Lévy afirmou categoricamente que isso não acontecerá. Como ocorreu durante todo o desenvolvimento tecnológico de larga escala, novas formas de pensar e interagir surgiram, mas as pessoas nunca deixaram de se encontrar por isso. Afirmou também que as viagens aumentaram ainda mais. Observando algumas pessoas mais jovens, pode-se hipotetizar que muitos contatos ficaram mais superficiais, por causa das comunicações instantâneas e das redes sociais, mas a explicação disso talvez se encontre nos excessos deles que causem danos às sinapses do cérebro.
Conclusão
A internet, assim como o primeiro computador digital surgiu de uma decisão militar dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial, visando combater a Alemanha de Hitler e posteriormente a União Soviética.
Os computadores e a Internet certamente aumentaram nossa capacidade de ação e de comunicação, facilitaram as pesquisas com provedores como o Google, tornaram possível conhecer novas pessoas e fazer novas aprendizagens, mas reduziram a autonomia individual, permitiram maior dependência tecnológica, sacrificaram os modos de pensamento que requeriam reflexão, introspecção e contemplação capazes de sustentar a criatividade, conforme entrevista de Nicholas Carr à Revista Galileu em 27 de outubro de 2010, ademais fazendo uma reflexão pessoal, deixaram muitas pessoas mais preguiçosas. Pensando nisso, pode-se concluir que essas ferramentas são uma faca de dois gumes.


Referências:
BRIGSS, Asa; BURKE, Peter. Uma História Social da Mídia: De Gutenberg à Internet, Rio de janeiro, Jorge Zahar Editor, 2004.

LÉVY, Pierre. Cibercultura, São Paulo / SP, Editora 34, 1999.

LÉVY, Pierre. O Que É Virtual, São Paulo / SP, Editora 34, 1996.



domingo, 9 de junho de 2013

O Sermão de uma Amiga

Escrevi por motivos pessoais, para refletir um acontecimento pessoal e divido-o com vocês. Imaginei uma conversa com uma nova amiga. A ela dedico e a quem eu me desentendi também. 

O Sermão de uma Amiga

Já não havia mais felicidade nos olhos dele. Sentia-se cansado, desiludido e por um motivo considerado fútil para a maioria das pessoas mais próximas e íntimas. No sofá, com o chimarrão a uma mão e um caderno colocado à direita, ele lançou um olhar sem graça para fora da janela de sua casa. O barulho, ou melhor, rugido do trem vindo e desacelerando antes de chegar à pontezinha fez o jovem rapaz sair de seu devaneio, de sua fuga para evitar pensar na realidade re em que o perturbava fazia meses. Sua nova amiga, que o havia socorrido naquele dia infeliz perguntou com uma voz doce e demonstrando preocupação:
-O que houve? Tu ainda estás pensando nela?
-Sim, e fiz analogias. -Respondeu melancolicamente ele.
Baixou sua cabeça e pensou que aquele seria o momento de contar uma história não contada e quiçá refletir sobre si mesmo. A garota, dezenove anos, ajudá-lo-ia a fazer isso. Naquele instante, o vento soprou pela janela e uma mecha dos longos e brilhantes cabelos loiros dela caiu sobre seus olhos. Ele sorriu. Achou graça quando ela os afastou e ficou encabulada com aquele olhar repentino.
-O que foi?!
Houve constrangimento. Ela era linda, principalmente quando surgia a imagem de a garota estar acariciando um gatinho de estimação sobre a barriga dela. Fazer o quê? Porém, ele afastou os pensamentos íntimos de sua mente e passou a cuia a ela. Lá fora, os vagões continuavam a passar, o que lhe fez lembrar do título de sua cidade: “Princesa das Pontes” e da inutilidade daquela ferrovia ao município.
-Tu vais me dar outro sermão?
-De fato. Ela já lhe falou sobre a “opção sexual” dela e tu tens de entender a necessidade do afastamento. Tu a cansaste, talvez ela te odeie e sinta aversão, mas e daí? Todos passam por desilusões amorosas e a única coisa que aquela menina havia te garantido era a amizade, mas cobraste demais, demonstraste egocentrismo, possessividade, roubaste o espaço dela e falhaste no respeito. Ela te deu algo bom, sem exigir nada e fizeste o oposto. Isso odiável, mas servirá como uma escola, a qual precisas inserir-te.,
As últimas palavras pareceram consoladoras, mas não aliviava a sensação de perda e de que jamais voltaria a se apaixonar. Tinha surgido um novo temor. Se novamente sentisse o mesmo por outra menina e ela não recebesse bem seus sentimentos. Lembrou-se vagamente de uma das aulas de uma disciplina da graduação quando estudou sobre Freud e num debate tornou-se consciente da existência de um padrão inconsciente que orienta a atração. Era o que queria contar, relacionando com uma paixão boba de escola. Preferiu não contar e escutar o último conselho.
-Buscar apoio psicológico e psiquiátrico te fará bem, mas melhor ainda é que tu comeces a sair, continue a ler teus livros, beba e escreva. Diários ajudam. Ah, e se voltar a falar dela, você apanha!
Ele sorriu. O mate que a garota bebia não tinha mais espuma, nem vapor, porém o gosto amargo e suave continuava. Ao devolver, ela lançou um sorriso cômico. Talvez nunca cumprisse a ameaça, mas seria melhor não esperar para ver. O assunto, assim, foi concluído. O trem distanciava-se e escutava-se um barulho que gradualmente diminuía. Pelo bairro, paralelo à ferrovia, os pássaros voando, pousados sobre os postes e perambulando sem permissão pelos telhados cantavam alegremente.

Autor: Itacir José Santim


domingo, 2 de junho de 2013

Breve História da Idade Média

Saindo da literatura para História
Breve História da Idade Média
Clique caso você deseje baixar este texto em PDF pelo Recanto das Letras
Autor: Itacir José Santim
O objetivo desse artigo é esboçar um resumo sobre Idade Média que pode ser usado em sala de aula. A fase denominada de Idade Média iniciou com a ruína do Império Romano no de 476 e teve como características básicas: a predominância do feudalismo que foi uma estrutura econômica, social, política e cultural que surgiu na Europa em substituição à estrutura escravista da Antiguidade romana. Com a ruína de Roma e o fim do escravismo, a população abandonou a cidade e procurou sobrevivência no campo. As invasões dos povos bárbaros, principalmente os germânicos, ajudaram a acelerar a queda do Império Romano Ocidental, a ruralização e a implantação do feudalismo. Durante esse período, outros povos também ocuparam partes da Europa, como os árabes no Mediterrâneo durante século VIII, impossibilitando as ligações comerciais entre o ocidente e o oriente. No século IX, ainda aconteceram as invasões normandas e magiares. Sobre o seu fim, vários historiadores consideram diferentes acontecimentos e épocas para a periodização. Alguns afirmam que ela terminou com a queda de Constantinopla em 1453, outros com a descoberta da América em 1492 e ainda o ano de 1800, por causa da Revolução Industrial.
Anteriormente, também foi mencionado que a base de toda a economia da Idade Média era agrária e de subsistência. A propriedade feudal pertencia a uma camada privilegiada, sendo o feudo a principal unidade econômica. Ele se dividia em três partes: manso senhorial ou domínio, manso comunal e manso servil. Devido às obrigações (talha, corveia etc) que os servos tinham, eles não se sentiam estimulados a aumentar a produção. A principal técnica usada foi a rotatividade ou agricultura de três campos. Caracteristicamente, a sociedade apresentou-se segmentada em estamentos fixos. Nobreza, o clero e servos. Haviam os vilões que tinham menos deveres e mais liberdade. A escravidão foi rara nessa época. Os nobres que cediam as terras eram os suseranos e os que recebiam se tornavam vassalos. Disso surgia uma relação recíproca de dependência.
Vimos que durante o fim do Império Romano muitos povos estrangeiros que ocupavam aquelas terras formaram seus próprios reinos e monarquias. O mais destacado foi o reino germânico dos francos que alcançou destaque na Alta Média (séculos IV ao IX) quando se formou o sistema feudal exatamente nesse local, onde hoje corresponde à França e Alemanha. Esse reino ficou conhecido como o Império Carolíngio e em 800 Carlos Magno foi coroado imperador, apoiado pelo Papa Leão III que desejava expandir o Catolicismo. Durante a dinastia carolíngia o Império atingiu grandes extensões, o que gerou dificuldades para administração que foram solucionadas com o contrato de fidelidade. Disso surgiu o costume de vassalagem e suserania, porém isso enfraquecia o poder real. Vejamos alguns trechos do livro Feudalismo: uma sociedade religiosa, guerreira, e camponesa:
Hilário Franco Júnior afirma que “os reis merovíngios remuneravam seus servidores entregando a cada um deles uma extensão de terra a título de beneficium em troca de determinados benefícios prestados. Tal concessão era vitalícia, mas, como quase sempre era renovada em favor do herdeiro do concessionário falecido,...” (JÚNIOR, Hilário Franco, 20012, p.12).
  
Muitas vezes o detentor do benefício recebia um importante privilégio, que esvaziava ainda mais poder monárquico: a imunidade (immunitas). Por causa dela, determinados territórios ficavam livres da presença de funcionários reais,... Assim, o tornava-se detentor de poderes de pobres regalianos (isto é, inerentes ao rei), o que lhes permitia nos seus domínios exercer funções administrativas, aplicar justiça, realizar recrutamento militar, cobrar impostos e multas. (...) (FRANCO JÚNIOR, Hilário, 2012 p.12).

Os reis perdiam de seu poder de nomear e destituir seus representantes provinciais (duques, marqueses, condes), cujos cargos tornavam-se bens pessoais ou hereditários. (...)” (FRANCO JÚNIOR, Hilário, 2012 p.13).
Carlos Magno morreu no ano de 814, iniciando à fragmentação do Império com a partilha entre seus filhos. Com a morte repentina de dois dos herdeiros, Pepino e Carlos, Luís tornou-se o único governante e preferiu dividir o Império entre seus três filhos, porém um quarto filho nasceu e ele decidiu fazer uma nova repartição, gerando revolta contra o pai. Em 843, assinado o Tratado de Verdún as disputas terminaram.
As invasões dos Vikings, Muçulmanos e Húngaros aconteceram por ter diminuído o poder central e aumentado a autonomia dos feudos. O islamismo, então, passou a dominar o Oriente, a África do Norte, a Península Ibérica, partes do sul italiano e ilhas do mediterrâneo. Até o ano de 1453 onde atualmente é a Turquia continuou existindo o Império Romano do Oriente ou Bizantino, cuja capital era Constantinopla, atual Istambul. Nas ilhas britânicas formaram-se os Reinos Anglo Saxônicos.
Nessa época, a Igreja cristã tornou-se a mais poderosa instituição feudal do ocidente europeu. Acreditava-se que o clero cristão tinha sido escolhido, instruído e investido de poderes pela Divindade. Cristo escolheu os discípulos, primeiros bispos e estes outros. Ela se considerava a herdeira do Império Romano, formava uma sociedade autônoma e organização de leis, além de ter um grande poderio econômico. Firmou aos poucos uma mentalidade simbólica que via no mundo um grande enigma decifrável somente pela fé. O mundo ganhou sentido intermediado por Deus e a razão passou a ser vista como instrumento diabólico que afastava o homem da verdade. Todavia, o lado mais negro da Igreja Católica também surgiu nesse período com a criação da Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício no século XII para perseguir aqueles que contrariavam a fé cristã.
O período conhecido como Baixa Idade Média (séculos X a XV) foi marcado por grandes transformações na sociedade. Houve um crescimento populacional razoável que era barrado pelo modo feudal de produção e exigiu melhorias das técnicas agrícolas, porém mesmo com elas não havia estímulo ao servo produzir mais, devido às tributações. Nessa época, as Cruzadas convocadas pelo Papa Urbano II em 1095 começaram, terminando em 1270. Elas possibilitaram o Renascimento Comercial, beneficiando principalmente as cidades italianas de Gênova e Veneza, estimularam inovações na construção naval, estabeleceram novas rotas comerciais e os produtos orientais aumentaram as possibilidades de enriquecimento. Os contatos por rotas terrestres e fluviais entre o norte e sul do continente europeu intensificaram-se. Surgiram as feiras, locais temporários de comércio como a de Champanhe na França. Esse comércio possibilitou o retorno da circulação de moedas, a entrada das letras de câmbio e das atividades bancárias. A título de curiosidade, destaco que a Igreja perseguia fortemente os usurários. A cobrança de juros na Idade Média era condenada. As ligas comerciais ou hansas surgiram no século XII. Eram associações entre várias cidades para o comércio de longa distância. A Hansa Teutônica, associação de mercadores alemães, foi muito influente. Elas foram responsáveis pela dinamização das cidades, o renascimento urbano e dos mercados, prenunciando o desenvolvimento econômico capitalista nos séculos XV e XVI. Outro tipo de associação importante foram as guildas ou corporações de ofícios que reuniam profissionais, donos de oficinas artesanais do mesmo ramo como a associação de sapateiros, por exemplo, para administrar a concorrência entre os membros e controlar os preços de suas mercadorias. Cada oficina era controlada por um mestre que pagava a um funcionário, o jornaleiro, e mantinha aprendizes que recebia apenas alimentação e vestuário.
A crise do feudalismo e o fim da Idade Média. O sistema social vigente dificultava o comércio por haver muitas diferentes de feudo para feudo. Havia, por isso, o interesse da burguesia em instituir um poder forte e centralizado, ao passo que os reis politicamente também desejavam fortalecer-se, submetendo a nobreza e limitando a atuação da Igreja. Assim, a burguesia e os reis passaram a se aliar a partir do século XI. A centralização do poder permitiu a instituição de um exército, impostos, moedas e justiça que abrangesse todo o reino. O exemplo mais significante de formação de uma monarquia nacional é o da França, a partir de 1328 com a Dinastia Capetíngia que superou a autonomia dos senhores feudais e instalou um poder real forte e centralizado. Destacam-se os reis Filipe Augusto, Luís IX e Filipe IV.
Do ano de 1337 a 1453, a França e a Inglaterra, as duas primeiras monarquias nacionais, envolveram-se num conflito pela região de Flandres conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Essa localidade era ligada por laços de vassalagem aos franceses e economicamente dependia dos ingleses. Durante a primeira fase do conflito (1337-1422), o exército inglês venceu a maioria das batalhas e impuseram aos franceses a Paz de Brétigny, pela qual a Inglaterra ocupava um terço do território francês. Nos anos de 1315 a 1317, a fome assolou a Europa. A população desnutrida sujeitava-se a todos os tipos de moléstias como a Peste Negra ou Bubônica que de 1347 a 1350 matou cerca de vinte e cinco milhões de pessoas. Vários foram os fatores para a fome como: o esgotamento do solo, mudanças climáticas, transformação das áreas de plantio para criar ovelhas e despovoamento do campo e das cidades. A França mesmo assolada pela fome, a peste e a guerra passava a ter reivindicações da burguesia parisiense por maior participação nas decisões e no interior aconteceram as revoltas camponesas ou jacqueries. A guerra reiniciou após a assunção de Carlos V no poder da França e com um exército reunificado a maioria dos territórios ocupados fooi recuperada, porém a morte do rei levou a uma nova disputa entre os membros da nobreza: armagnacs e borguinhões. Estes últimos se aliaram aos ingleses. Em 1422, a França de novo estava dividida. O povo francês continuou a lutar por sua libertação. Nesse contexto a filha de humildes camponeses, dizendo-se enviada de Deus, surgiu para derrotar os ingleses. Ela era Joana D'Arc. Libertou boa parte da França e conseguiu com que Carlos VII fosse coroado em Reims, porém em 1430 presa por borguinhões foi entregue aos ingleses, julgada por tribunal eclesiástico e assassinada na fogueira. A guerra prosseguiu e em 1453 os ingleses foram expulsos, consolidando as bases do primeiro Estado nacional e acelerando o desenvolvimento econômico francês na Idade Moderna.
Esse período não demonstrou apenas aspectos ruins. As primeiras universidades como a de Bolonha, Paris e Oxford, por exemplo, surgiram já nos séculos XII. Artisticamente predominaram os estilos românico e gótico nas construções como as das grandes catedrais que apareceram durante toda a Idade Média. Na literatura, tivemos as cantigas, poesias e novelas de cavalaria.
A Idade Média terminou, assim, com o fim do feudalismo, quando os reis conseguiram aumentar o seu poder, graças ao apoio da burguesia e iniciou uma série de transformações que dariam origem ao mundo moderno, conforme aprendemos a conhecer.

Referências:
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio – da formação da Europa medieval à colonização do continente americano. 2° Ed, São Paulo, Moderna, 2006

FRANCO  JÚNIOR, Hilário.  A Idade Média: nascimento do Ocidente. 2° Ed, São Paulo, Brasliense, 2001

FRANCO JÚNIOR, Hilário. Feudalismo: uma sociedade religiosa, guerreira, e camponesa. São Paulo, Moderna, 2012

VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, Scipicione, 1997