O livro Admirável Mundo Novo escrito em 1932 pelo inglês Aldous
Huxley, publicado no Brasil pelo Circulo do Livro, é uma daquelas
obras da Ficção Científica que exemplifica, considerando a época
quando foi escrito o lado bom e ruim de se ter uma sociedade
projetada através do conhecimento da biologia e das teorias
comportamentais. É um romance louco, principalmente aos que estão
acostumados a fazerem leituras sem demasiadas excentricidades.
Nele, devido às incertezas do período por causa da ascensão de
governos totalitários ao poder, a crise econômica e o medo de uma
nova guerra mundial, onde possivelmente a Alemanha ou a União
Soviética desenvolveriam a primeira bomba atômica, ameaçando a
destruição da civilização, o autor imaginou apenas duas
possibilidades para o futuro distante: vários governos totalitários
usando a ciência para construir mais armas nucleares espalhando o
terror global ou constituir apenas um que através do conhecimento
projetaria a partir de centros de reprodução humana artificial a
nova sociedade. Huxley afirmava que só as descobertas da biologia,
fisiologia e psicologia
poderiam contribuir para melhorar a qualidade da vida humana.
Através delas, os males que atormentam os indivíduos e que surgiram
com o desenvolvimento gradual da cultura poderiam ser eliminados
através de técnicas do condicionamento pavloviano e operante.
O romance inicia mostrando um laboratório denominado Centro de
Incubação e Condicionamento de Londres Central e o lema do Estado
Mundial: comunidade, identidade, estabilidade. Isto quer dizer que o
governo controla toda a reprodução humana e por mais estranho que
possa parecer as mulheres não ficam mais grávidas. Os bebês após
a fertilização artificial que permite gerar centenas de indivíduos
iguais, praticamente em escala industrial, desenvolvem-se em “úteros
artificiais.” As mulheres não aceitam mais procriarem e as
famílias compostas de mãe, pai e filho não existem mais. Foi
criado o lema bastante “democrático” de que “todos são de
todo mundo” e o objetivo do sexo alterou-se para apenas a busca
pessoal por satisfação e prazer. A sociedade divide-se em castas,
conforme a função que cada indivíduo foi condicionado ainda antes
de nascer e durante sua infância no laboratório.
Relacionado às ideias sobre o condicionamento pavloviano, no
capítulo II há uma cena em que enfermeiras distribuem numa longa
fila vasos com rosas e em outra extremidade de flores de outras
espécies. Posteriormente, elas trouxeram livros, distribuíram-os
abertos em páginas com gravuras chamativas para crianças e foram
pegar uns bebês de oito meses de idade. Eles foram liberados a fim
de poderem engatinhar à vontade pela sala e mexerem no que ali
estava posto. Engatinharam após um curto momento de quietude às
rosas e aos livros abertos. Tocaram nos objetos, despetalando-as e
amarrotando as páginas dos livros, enquanto alegravam-se. Quando a
alegria, a concentração das crianças nas coisas, atingiu o ápice
a enfermeira-chefe baixou uma alavanca fazendo soar com intensidade
cada vez maior campainhas de alarma. “As crianças
sobressaltaram-se, berraram; suas fisionomias estavam contorcidas
pelo terror.” (p. 31) Ela baixou uma segunda alavanca causando
maior desespero nelas, pois estavam tomando choques elétricos vindos
do chão eletrificado. Depois de parar com essas duas ações, as
enfermeiras ofereceram novamente as flores e os livros. “(...) Mas
à aproximação das rosas, à simples vista de imagens alegremente
coloridas do gatinho, do galo que faz cocoricó e do carneiro que faz
bé, bé, as crianças recuaram horrorizadas; seus berros
recrudesceram subitamente.” (p.32)
O que aconteceu na cena foi uma associação que as crianças fizeram
aos livros e o barulho intenso, as flores e o choque elétrico e após
variadas repetições seria concluída. Elas, então, cresceriam com
um ódio “instintivo” aos livros e às flores, assim aprenderam a
detestar o campo e à literatura. É o condicionamento clássico, o
qual consegue reprimir a liberdade individual até certo nível.
Aplica-se-o em casa, possivelmente. O livro tem muitos outros
exemplos, mas o mais memorável a mim ao aprendizado foi o dessa
descrição. Huxley imaginou uma sociedade organizada em castas, onde
cada indivíduo seria condicionado a uma tarefa específica durante o
seu desenvolvimento e que a estabilidade mundial resultaria do
controle de natalidade feito com o auxílio de estatísticas exatas,
assim como numa fábrica quando se calcula quanto vai se gastar de
matéria-prima para atingir a meta necessária de produção.
Uma dica com outros exemplos é o livro Laranja Mecânica do Anthony Burgess que Hollywood tornou filme.