Sábado. Amanhecia tranquilamente na
pequena cidade de Muçum. Havia pouco movimento nas ruas. Alguns carros
trafegavam pela avenida principal, pessoas mateavam em frente de suas casas e
saiam para se exercitar. Umas conhecidas encontravam-se durante o passeio e
paravam a fim de prosear. A maioria fazia isso, pois em uma vizinhança pequena
é costume falar do que um ou outro fez no dia anterior. Assim, surgiam as
fofocas.
A cidade possui duas cadeias de montanhas esverdeadas
capazes de transmitir a sensação de estar dentro de um grande buraco, no
entanto ela se encontra dentro de um grande vale com um rio que percorre paralelamente
a extensão urbana. Sobre ele, na entrada de Muçum, existe uma ponte
rodoferroviária que ao cruzá-lo passa a possuir arcos de concreto unidos com a
lateral esquerda da usada por automóveis. Do outro lado do rio, há uma estrada
de chão, uma favela com seus barracos ambíguos ao barranco fluvial e um longo
túnel de trem. Existem apenas duas avenidas principais que se unem após uma
virar para a direita, onde se encontra a maioria das lojas de roupas,
brinquedos e outros produtos. Pode-se andar a pé para qualquer localidade da
zona urbana devido às pequenas distâncias.
O lugar permaneceu tranquilo, enquanto
prosseguiu a alvorada. Na Escola Estadual General Souza Doca, única de Ensino
Médio existente no município, faxineiros, professores e membros da administração
arrumavam as salas de aula para o retorno às atividades curriculares que
aconteceria na Segunda-Feira. Os
primeiros raios solares dispersaram-se pelo pátio e depois atingiram os três
prédios de dois andares que constituíam com o ginásio municipal de esportes um
retângulo.
Algumas faxineiras variam a poeira e as folhas
das árvores quedadas no pátio. Tinha começado a ventar, no entanto a previsão
meteorológica havia indicado tempo ensolarado. Repentinamente, na sala de aula
do segundo prédio, Turma-71 no ano anterior, perto da extremidade da cantina e
do portão com acesso à escadaria para o setor da administração e dos outros
recintos de ensino, aconteceu um rugido semelhante a um trovão. Uma mulher que
varia o piso e encontrava-se ambígua ao recinto atingido pelo barulho entrou a
fim de verificar o que se passava. O lugar estava congelado. Algo invisível e
pequeníssimo absorvia todo o ar do interior da sala e produzia raios para todas
as direções. A faxineira apavorou-se. Ela gritou, gritou, gritou, mas ninguém
ouviu nada por causa do vendaval. Mesas
e classes eram arremessadas contra as paredes como brinquedos infantis e
permaneciam nelas coladas. Quando o fenômeno havia aumentado de intensidade,
ele empurrou a porta com tanta intensidade que ela rachou ao bater.
Subitamente, o estranho fenômeno terminou e um raio atingiu a faxineira lançando-a
contra o piso, enquanto continuava a gritar.
Do exterior, o último grito de pavor foi ouvido
chamando a atenção do Diretor da escola que nesse instante se encontrava em seu
gabinete. Ele correu preocupado para a sala da Turma-71, entrou e encontrou várias
criaturas disformes que andavam sob duas pernas, possuíam peles cinzentas
melequentas, três dedos homólogos longos em suas mãos e pés, cabeças triangulares
com uma extensão que constituía uma massa cônica para trás, olhos negros tão
volumosos que se assemelhavam a uma lupa, dois orifícios para respirar logo
abaixo e bocas pequenas. Elas eram magérrimas e repulsivas.
Os curiosos que se aproximaram da sala tinham
sido dominados. Restava agora aprisionar quem administrava a escola, por isso
uma criatura andou contra o Diretor, este saltou apavorado para trás, ela
estendeu o seu braço direito desdobrando os seus três dedos magérrimos e a
porta fechou-se como se houvesse magnetismo. Então, os estranhos seres
agarraram-no, sofreram resistência dele, mas conseguiram deixá-lo inconsciente
graças ao toque dos seus dedos homólogos. Depois de concluir a investida, as
criaturas assumiram as aparências de cada pessoa aprisionada.