Postagem em destaque

Missão nas Estrelas Teste

Mostrando postagens com marcador ficção. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ficção. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A tragédia de Calebe Kalar (Tragedy of Caleb Kalar)

 


Pobre Calebe. A biografia do ex-príncipe imperial deve ser complementada. Foi dito que ele é melancólico por mudanças culturais, contudo há uma tragédia pessoal envolvendo sua família. Há vinte anos ele teve seus pais, irmãos, mulher e filhos mortos durante um ataque do Consórcio durante a tentativa de decolagem da estelanave imperial.

Na época ocorria uma grande guerra civil envolvendo facções comandadas pelos irmãos e opositores ao Imperador Gideão XI. Ela já perdurava dez anos. Gideão XI vinha tentando manter a unidade do Sistema Solar Escorpiano que lhe sobrara desde o fim da guerra com o Consórcio e a assinatura do tratado de paz, o Tratado de São Paulo[1], que desintegrou o Império Interestelar Escorpiano. O imperador preferiu ouvir os sacerdotes que afirmavam chegar a hora da submissão escorpiana ao jugo do conquistador como punição pela queda. Contudo, trinta anos depois ele e sua família viram-se ameaçados por parentes que se converteram aos jarielitas ou opunham-se aos prognósticos dos sacerdotes e à política imperial.

Calebe nasceu em 2341, durante o processo de desintegração imperial e da transformação da monarquia em fantoche do Consórcio Solar. Ele cresceu sendo o filho favorito de sua mãe, mas um desgosto de seu pai por conflitar com os sacerdotes, refutando as interpretações da chegada do Juízo Final deles. Quando rapaz pode viajar, conhecer e estudar em outros mundos como Cinder, Quand, Terra Brasilis, dando passagens por Terra e Marte. Acreditava que poderia reerguer a economia escorpiana explorando as reservas de gravitonite existentes no sistema solar escorpiano e fabricar antimatéria. Buscou aliados entre os opositores antes de eles se voltarem contra a monarquia. Gideão XI ao saber das iniciativas do filho resolve proibi-lo de continuar com o projeto. A proibição de haver estelanaves escorpianas ainda não tinha sido imposta pelo Consórcio, então era possível transportar os combustíveis usados para voos interestelares para vender em outros sistemas. Contudo, o imperador já tinha decidido: “A grande História escorpiana acabou. É momento de acertar as contas com o Senhor de Todas as Galáxias. Ele enviou os novos Acusadores.” Ele mandou trancafiar o filho e executar os opositores líderes do projeto de reerguer a economia escorpiana. Todavia, como último grande ato de um imperador derrotado, deprimido, ele decidiu investir uma última viagem aos planetas do desintegrado império para comportar seus súditos. A guerra civil iniciava-se.

O Consórcio evitou agir por um tempo, conseguindo manter protegidas suas regiões, mas ao ter seus inspetores de armas interestelares barrados em instalações de energia e militares escorpianas, os membros decidiram que era o momento de endurecer as regras do tratado de paz. Os escorpianos foram proibidos do voo interestelar independente. Suas naves estelares foram desmontadas ou destruídas, contudo, a nau imperial permaneceu salva e o imperador resolveu usá-la. Naquele dia, o Consórcio intervia bombardeando cidades do planeta para auxiliar rebeldes que instalariam a República. O imperador decolava da base quando sua nave foi granjeada pelos sensores da nave NAE-天上的戰士 (Tiānshàng de Zhànshì) do recém promovido a Capitão Ender Shin.

Ender Shin reticenciou a atacar a nave imperial. A situação na base tornava-se crítica com a derrota do exército escorpiano aliado ao Consórcio. Ela se localizava em uma cidade ao lado da capital chamada Astrabade em português. Então, a nave do Consórcio recebeu novas ordens de sua capitânia que não podia se colocar na posição sobre a base a tempo. Então, Ender Shin executou o bombardeio com ogivas do tipo Nova. Metade da cidade tinha sido destruída e a família imperial morta, garantindo a vitória dos republicanos escorpianos.

Calebe foi resgatado por seus aliados e preferiu exilar-se, jurando um dia voltar ao planeta para livrar o seu povo da ocupação e fazer justiça à sua família.


Translate

Poor Caleb. The biography of the former imperial prince must be complemented. He has been told that he is melancholy about cultural changes, however there is a personal tragedy involving his family. Twenty years ago he had his parents, brothers, wife and children killed during a Consortium attack during the attempt to take off the imperial scallofleet.

At the time there was a great civil war involving factions led by the brothers and opponents of Emperor Gideon XI. Gideon XI had been trying to maintain the unity of the Scorpio Solar System that had remained left to him since the end of the war with the Consortium and the signing of the peace treaty, the Treaty of São[1]Paulo, which disintegrated the Scorpio Interstellar Empire. The emperor preferred to hear the priests who claimed the time came for the Scorpio submission to the conqueror's yoke as punishment for the fall. Thirty years later, however, he and his family were threatened by relatives who converted to the Jarielites  or opposed the priests' prognoses and imperial politics.

Caleb was born in 2361, during the process of imperial disintegration and the transformation of the monarchy into a puppet of the Solar Consortium. He grew up being his mother's favorite son, but a distaste for his father for conflicting with the priests, refuting the interpretations of their doomsday arrival. As a boy you can travel, meet and study in other worlds such as Cinder,  Quand,Terra  Brasilis,giving passages through Earth and Mars. He believed he could rebuild the Scorpio economy by exploiting  the gravitonitis reserves in the Scorpio  solar system and making antimatter. He sought allies among the opponents before they turned against the monarchy. Gideon XI upon learning of the son's initiatives decides to prohibit him from continuing with the project. The ban on scorpio sours  had not yet been imposed by the Consortium, so it was possible to transport the fuels used for interstellar flights to sell in other systems. However, the emperor had already decided: "The great Scorpio story is over. It's time to settle the score with the Lord of All Galaxies. He sent the new Accusers." He had his son locked up and executed the leading opponents of the project to rebuild the Scorpio economy. However, as the last great act of a defeated, depressed emperor, he decided to invest one last trip to the planets of the disintegrated empire to behave his subjects. The civil war was beginning.

The Consortium avoided acting for a while, managing to keep its regions protected, but by having its interstellar weapons inspectors barred from energy facilities and scorpio military, members decided it was time to toughen the rules of the peace treaty. Scorpio were banned from independent interstellar flight. Their starships were dismantled or destroyed, however, the imperial ship remained safe and the emperor decided to use it. That day, the Consortium intervened by bombing cities around the world to assist rebels who would install the Republic. The emperor was decolava of the base when his ship天上的戰士 was hailed by the sensors of the ship NAE-(Tiānshàng of  Zhànshì)of the newly promoted to Captain  Ender  Shin. 

Ender Shin  reticentto attack the imperial ship. The situation at the base became critical with the defeat of the Scorpio army allied to the Consortium. It was located in a town next to the capital called  Astrabade  in Portuguese. So the Consortium ship received new orders from its flagship that it could not put itself in position on the base in time. So  Ender  Shin carried out the bombing with New Type warheads. Half the city had been destroyed and the imperial family killed, securing the victory of the Scorpio Republicans.

Caleb was rescued by his allies and preferred to go into exile, vowing one day to return to the planet to rid his people of the occupation and do justice to his family.

 



[1] It was signed in the city of São Paulo



[1] Foi assinado na cidade de São Paulo

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Missão nas Estrelas Planeta Brasa e seu Diário de Produção


2a versão de Missão nas Estrelas abortada

 2016 foi um ano dificílimo para mim. Eu me isolei trancando-me em meu quarto, desinteressada da vida por um ano. Fugi de casa também. Neste contexto tentei criar uma história em quadrinhos sobre Missão nas Estrelas. Ia quadrinizar o episódio 3 Colônia. Posteriormente, o roteiro ficou maior. Havia detalhes. No fim, abortei o projeto, pois meu computador estava estragado. Pouco antes, fiz uma segunda tentativa (Imagem acima), mas enquanto montava a primeira página o hd queimou. Eu não tinha dinheiro nem valia a pena comprar um hd novo. Como consegui a bolsa graduação do Santander ao retornar para a graduação em 2018 comprei um notebook novo. Hoje continuo desempregada e atualmente moro em Londrina.

Bem, daquela primeira tentativa publiquei no Recanto das Letras o Diário de Produção e as vinte e seis páginas resultantes. Podem acessar pelo link abaixo: 

Missão nas Estrelas Planeta Brasa e Diário de

Fiz este teaser em 2016:


Produção

>

terça-feira, 4 de março de 2014

Carlos e Jéssica: O dia em que as engrenagens pararam

Autor: I. J. Santim
Acessem pela imagem e leiam meu primeiro romance

Capa: da minha querida colega e amiga Priscila Rigoni

 
Cinco da manhã. Lá fora está escuro. Faz frio. Há trovões. Relâmpagos. Raios. Dentro, um relógio despertador tocando. Carlos, mal humorado, acorda e dá um tapa violento na droga do despertador como se o aparelho fosse culpado por suas escolhas, consequências e contextos aleatórios. Ele fechou novamente os olhos, desejando voltar a dormir por mais quinze minutos, os quais se tornariam trinta, depois uma hora, fazendo-o atrasar-se ao seu trabalho e discutir com o almofadinha do chefe do setor, porém isso não se realizou. Jéssica adentrou apressadamente no quarto. Ela já vestia o uniforme da empresa, a qual ambos trabalhavam e sacrificavam-se, inclusive nos finais de semana.
  • Amor, você irá se atrasar.
  • Me deixa dormir mais um pouco.
  • Não!
Jéssica sorriu maliciosamente e puxou o lençol da cama.
  • Não, Jé! Para! Deixa de ser chata!
  • Carlos, você sabe que ao chegar atrasado, terá de discutir com os guardas da portaria para poder entrar e o almofadinha do Diego que não fecha mais contigo há uns três meses.
  • Você está certa querida. - Respondeu sonolento Carlos.
  • O café está na mesa e eu terminarei de arrumar as crianças. Tadinhas, acordá-las a esta hora é tortura!
  • Isso se chama indústria...
  • E nós somos seus órgãos.
Carlos e Jéssica normalmente mantinham longas conversas ora de estilo marxista, ora apenas hegeliano acerca do real sentido da indústria e de toda a sua produção, chegando à triste conclusão de que muito do que se produz é supérfluo, sem serventia e capaz de apenas ajudar às pessoas a viver fantasias e a sentir novas necessidades. Todavia, não é o que o povo quer? Não se pode generalizar.
Durante o trajeto de carro para a empresa, passando pela escola de educação infantil, essa discussão prosseguiu. Carlos achava tudo inútil, babaquice, coisa de intelectual, ou pior, de gente de escritório, cujo suor do trabalho sempre desconheceu, mas agradava à esposa, uma garota jovem, meiga, a qual recém tinha conseguido um diploma em história, porém relutava a ser professora e continuava como chefe de setor da merda de uma linha de produção!
Chegando à empresa, Jéssica e Carlos estavam mais de vinte minutos atrasados. Os portões de entrada tinham sido fechados haviam cerca de quinze minutos, dificultando o acesso ao interior do complexo. O casal, por isso, teria de discutir com os guardas ou esperar a manhã passar e entrar depois do intervalo, conforme ordenava o regimento interno. A empresa, renomada na fabricação de calçados femininos, demonstrava-se inflexível e, por isso, mantinha contratada uma empresa de segurança fiel religiosamente às leis, regras, normas, instituições e o que mais convier para organizar, disciplinalizar e colocar nas queridas estruturas os fiéis “colaboradores.”
Jéssica antecipou-se ao desembarcar do carro para tratar com os guardas, pois ela temia que irritado, devido ao trânsito caótico da cidade seu marido irracional1 arranjasse confusão e fosse despedido. Isso já tinha acontecido uma vez e o gerente prometeu despedi-lo na próxima. Um homem gordo, calvo, sisudo e de uniforme cinza com um pequeno escudo inscrito “segurança” na altura do peitoral direito surgiu na guarita.
  • Bom dia! Meu marido e eu estamos atrasados por causa do trânsito, você poderia abrir podermos trabalhar?
  • Sinto muito, mas isto não é possível. Deveriam ter saido mais cedo de casa.
  • Mas, nós saimos. - Murmurou Jéssica, lembrando-se que Carlos insistiu para ficar mais alguns minutos na cama. Sentiu naquele momento raiva dele, mas repensou a situação e concluiu que ele não era culpado. Tinham saido na mesma hora várias vezes anteriormente e nunca se atrasaram, porém nos dias passados não houveram temporais alagando a cidade, enquanto dirigiam para o trabalho. Nesse instante, o céu estava límpido, o concreto da calçada e o asfalto da rua começaram a refletir a luz solar, cuja intensidade fazia brilhar milhões de pontinhos da superfície.
Jéssica procurou manter-se calma. Era a primeira vez que lhe acontecia esse tipo de situação. Enquanto isso, Carlos esperava impaciente no carro o retorno dela. Suas mãos sobre o veículo tremiam. Ela redarguiu:
  • Olha, nós saimos cedo de casa, mas o temporal piorou as condições de trânsito.
  • Eu entendo, mas...
  • Você não é meu chefe e não tem fundamento para dizer que devia ter saido mais cedo de casa!
Jéssica resolveu descontar a sua raiva contra um guarda que praticamente desempenhava eficientemente o seu trabalho e não toleraria nenhuma exceção.
A cena foi cômica. Ele subitamente tremeu, rasgou uma folha de sua caderneta de anotações, derrubou sua caneta ao chão e, quando foi tirar o telefone do gancho, bateu-o na lateral do suporte. Nesse momento, Carlos havia deixado o automóvel e se aproximado da guarita.
  • Querida, acalme-se, não vamos fazer escândalo.
Jéssica estava vermelha.
  • Claro.
  • Eu vou ligar para o gerente.
  • Não precisa, estamos indo embora.
Indo abraçados para o carro, Carlos murmurou:
- E eu que discutiria com os guardas.
- O que vamos fazer?
- Vamos para casa.
- Mas?
- Confie em mim, é o que eles querem.
Jéssica encostou sua cabeça no ombro de Carlos, enquanto engatavam os cintos. Seus lisos cabelos loiros roçaram sobre o ombro dele. Ela estava chateada, temia que ambos perdessem o emprego e, todavia, sentia que ele havia evitado uma confusão maior. Claro! Se o gerente aparecesse... ele é fanático por ordem, disciplina e inflexibilidade. Considerava a empresa como “a grande família” e sempre cuidava para que sua estrutura não falhasse. Só zelava pelo bem dos funcionários, essa chamada família, quando a lei mandava, porém exigia que essas medidas refletissem em produção, qualidade do produto finalizado e não no bem estar individual. Esses pensamentos ocorreram na mente dela até chegar ao apartamento do subúrbio da cidade, num prédio ambíguo a uma favela, cujas cenas de crianças andando armaadas pelas ruas, transportando crack ou maconha até os merdas que desejavam comprar para cheirar eram visíveis da varanda.
Da garagem ao quinto andar, havia silêncio. Saindo do elevador, Jéssica e Carlos depararam-se com o corredor vazio. Sua iluminação só se ativou com a presença deles. Dentro do apartamento, ela jogou sua bolsa no sofá e ele se dirigiu à cozinha.
- Eu vou ver o que faremos para o almoço.
- Claro.
Jéssica sentou-se ao sofá para continuar a ler um livro a partir de uma página marcada.
- Certamente, seu lugar não é lá conosco.
Jé sorriu. Ela compreendia que Carlos orgulhava-se de sua mulher. O diploma havia sido conquistado com muito esforço e sacrifício, mas a promoção também, por isso a relutância de deixar a empresa. Contudo, dentro disso nutria um desejo maior: ajudar a conseguir um ambiente de bem estar no trabalho aos seus subordinados que executavam todas as tarefas especializadas sobre sua orientação. Mas como? Carlos era membro do Sindicato, o qual, infelizmente, permanecia mancumunado com a empresa e satisfazia os desejos dos gestores dela. Típico de qualquer sindicato.
- Hum, acha que eles irão ligar? - Perguntou Jéssica quando viu Carlos retornando da cozinha com duas xícaras de café.
- O que você acha?
- Pensei que se preocupassem conosco. Ah, obrigada.
- Não percebeu? Nem você é significante.
- O Sindicato não pode fazer nada?
- Não.
- O café está excelente.
- Obrigado.
- Eu ficarei no quarto um pouco.
- Quem poderá estar no Face a esta hora?
- Sempre tem alguém.
Sorridente e com a xícara de café na mão, Jé ergueu-se, andou para o quarto, enquanto carlos ficou olhando-a caminhar e, consequentemente, sentindo uma atração imensa toda vez que fitava a bunda dela, porém, de resposta, ele recebeu um olhar reprovador. Ela riu, entrou, viu a cama desarrumada, uma cueca embaixo, roupas amontoadas sobre uma poltrona deixadas para passar a ferro, caminhou até a escrivaninha, sentou-se, ligou o computador, esperou cinco longos minutos ao windows inicializar-se e mais três a conexão de Internet terminar de se estabelecer. Enquanto esperava, ela preferiu acessar o Face pelo smartphone, viu os recados, os posts, algumas fotos da última bebedeira com os colegas de sua casta na empresa, de “quem pegou quem” e desconectou-se. A Área de Trabalho do Windows em seu computador pessoal e a conexão com a Internet estavam preparadas para uso. Então, Jéssica pos sua mão sobre o mouse, conduziu o cursor até o Google Chrone, clicou duas vezes, a janela do navegador abriu carregando a página do Google, ela localizou sua lista de “favoritos da web”, clicou sobre o endereço do Facebook e depois de a página carregar fez login.
Jé sentiu satisfação ao contemplar sua página e ver que ela estava lá com seu layout branco, ícones de aplicativos, jogos, grupos etc à esquerda e sugestões de amizade e propagandas à direita, ordenados de forma vertical. Na aba superior, à esquerda sobre a faixa azul, os ícones informando haver pedidos de adição de novos contatos, notificações gerais e recados iluminavam-se com sinais numéricos avermelhados. Cinco, noventa e seis e dezesseis. A maior parte de tudo isso não passava de inutilidades: spams, vírus, propagandas postadas por contatos correntes e convites para jogos on-line. Olhar para esse panótipo irritava-a, aumentando o seu desejo de abandonar a rede social, composta na maioria de gente sem bom senso, porém não fazia por causa do vício inebriante e da falta de condições neuroniais para implementar decisões.
Por cinco minutos, Jéssica navegou imersa na inutilidade das postagens de seus novecentos e oitenta e seis contatos, excetuando as fotos das amigas de vestidos justos, brilhantes, shorts curtos e barriga de fora, mostrando piercing no umbigo e copos emborcados de cerveja na balada noturna, as quais lhes fazia surgir o sentimento de nostalgia, pois ela havia vivenciado aqueles aspectos antes de namorar, ir morar com Carlos, concluir a faculdade e ter dois filhos. De repente, observando a lista de notificações, encontrou um convite para um grupo de discussão e um evento chamados: o dia de parar as fábricas do mundo. Aceitou risonha a ambos os convites, sem refletir muito, pois ao navegar na web isso comumente não se faz, segue-se apenas gestos, tendências,modismos, sensações etc.2 Depois de aceitar aos convites, Jéssica conheceu o perfil do grupo, a proposta de discussão e do evento. Imersa no ambiente virtual, ela não se lembrou de controlar o tempo de uso do computdor. Era meio dia. O cheiro de comida e os gritos de crianças da cozinha despertaram-na. Nesse instante, Carlos entrou:
- Querida vem almoçar. Eu pedi à Mari do andar superior para pegar as crianças na escola e fiz algo especial pra gente. Vem.
- Nossa, deve ser algo delicioso com esse cheiro!
- Vem.
-Tah, depois quero te mostrar algo e quem sabe planejar uma greve sem depender da assembleia sindical submissa.
- Estou curioso, mas por que agora?
- Cansei dos abusos, do autoritarismo, de regras muito controladoras e de ver os operários quase se matando de tanto trabalhar em nome da tendência da próxima estação sem o merecido retorno. Quero fazer algo que acabe com isso.
- O que você anda lendo ultimamente? O Manifesto Comunista de novo!
- Você deveria lê-lo algum dia. Nossa! Que mesa linda!
Carlos puxou a cadeira da ponta. Jéssica acomodou-se depois de beijar seu filho de cinco e sua filha de três anos, a qual estava sentada em uma cadeira apropriada para as refeições infantis. Os olhos dela brilhavam. Ela sorria de encanto e alegria. Tinha ficado consciente de que o incidente da manhã deu-lhes a oportunidade de reunir a família, algo raro, de brincar com os filhos, falar com eles, dar carinho e namorar.
O almoço foi divertido na companhia das crianças para Jéssica e Carlos. A inteligência delas surpreendia-os cada vez mais. Elas demonstravam muita curiosidade. Guilherme, o filho mais velho, perguntoou por que a mamãe e o papai não foram trabalhar naquela manhã, e, considerando esse fato, se não poderia faltar a escola também, já que eles descumpriam o dever de trabalhar, então ele poderia fazer o mesmo quanto ao estudo. Foi difícil convencê-lo, mas graças a isso ela o questionou:
- O que você aprendeu ontem na escola?
- Dinossauros!
- Hum, o que mais?
- Eles eram... uns lagartos grandes, andavam por... toda terra, mas morreram. - Explicou com dificuldades Guilherme.
- Por quê?
- Um meteoro matou eles!
- Nossa, quanta você aprendeu! -Disse orgulhosa Jéssica.
- Vamos passear no parque depois?
- Vamos! - Respondeu a filha Eduarda, erguendo os braços para que a mãe pegasse-a no colo.
O ar, embora poluído, o cheiro das flores, o vento balançando as árvores, os bebês nos carrinhos e as crianças assistidas pelos pais brincando na pracinha, enquanto outras apreciavam os peixes no chafariz e perseguiam os passarinhos tornaram a tarde agradável a uma família jovem, cujo tempo de convivência com os filhos e de ócio era reduzido, por causa das horas extras, das respondabilidades com a casa, dos estudos, das preocupações e do cansaço.
Enquanto balançavam as crianças no balanço da pracinha, Carlos demonstrou certa curiosidade a respeito da possibilidade de começar uma greve independente dos sindicatos. A ideia parecia fantástica demais, utópica para a compreensão dele, um homem que nunca se importou com o estudo e aprendeu durante a vida a importância do que tinha negado.
- Você me falou de uma greve independente do Sindicato.
- Sim. Podemos usar o Face para programá-la. Os funcionários possuem perfis e os que não possuem poderão usar os dos filhos para se informar, problematizar, discutir e implementar as ações. O grupo que contatei, o qual planeja uma greve nacional em parceria com outros no exterior já marcaram uma data.
- Isso é loucura! Tem gente lá que não aceitará, porque se preocupam em não receber para comprar comida aos filhos, pagar aluguel, luz, água, gás e outras contas. Você sabe que o que nos pagam é uma bosta, mas ficamos na fábrica porque é o que sabemos fazer e se pedíssemos as contas o risco de não conseguirmos nada lá fora é grande.
- Querido, eu sei. Isso é triste. As fábricas deveriam ser apenas locais de transição. Poxa! Nos últimos quatrocentos anos conseguimos tantos conhecimentos e eles, em geral, só serviram para estabelecer novas maneiras de dominação e aumentar a população submissa. Os espertos em economia, finanças etc tornaram-se seus Senhores. Eles consideram a maioria incompetentes, mas ambiguamente precisam dela como operários. Os americanos chamam estes indivíduos de perdedores. É o que apregoa o velho e o neo-liberalismo.
- E há aqueles de nós que se vende a essa gente.
- Eu fui uma, acho!
- E eu nunca pensei que uma mulher linda, inteligente, sempre vestindo roupas da moda e ganhando fosse se interessar por um...
- Grosseirão como você?! Bem, a Biologia explica que o seu cheiro me atraiu. Chama-se seleção natural!
- Legal, Deus me abeçoou!
- Para, nós perdemos o foco da conversa! - Exclamou risonha Jéssica, pois ela escutou uma resposta dada de forma cômica.
Carlos observou a hora em seu relógio de pulso:
- É, está tarde, por isso vamos levar as crianças para casa e tentar executar essa ideia fantástica.
Ele admirou a proposta, mas somente por causa da chance de dar uma grande dor de cabeça á gerência da empresa. Planejar a greve pela Internet através do Face pareceu uma ideia inteligente, pois a coordenação e a execução poderiam ser realizadas por todos. Ademais, como a rede não é hirerárquica, mas rizomática e descentralizada o líder mais atuante ou que causou o estopim do movimento dificilmente seria identificado para que o Estado pudesse caçá-lo, principalmente o Estado brasileiro, cujas merdas das autoridades, mantendo um padrão autoritário vigente desde 1822, mandam seus subordinados às ruas, onde eles, influenciados pela cultura de impor a lei e a ordem de forma autoritária, batem nos manifestantes.3
Jéssica apresentou a ele o grupo que conheceu no Face. Ela argumentou a favor da proposta dizendo que os operários encontravam-se desanimados, entendiados e cansados.
- Uma greve os deixará mais tensos.
- A proposta do grupo é fantasiosa, mas a maioria de suas tem aplicabilidade.
- Voltar a produzir para si mesmo e, assim, não passar fome?
- Isso não é realizável, mas convencer quem controla a economia sim, pois nós controlamos a produção.
- Sim e, por isso, parando a produção mundial a economia para. Mas, e se pararmos e nos despedir.
- Dificilmente identificarão o líder pela Internet e se despedirem os novecentos e noventa operários não poderão contratar a quantidade necessária para o outro dia.
- Vou conversar com algumas pessoas e ver se podemos fazer isso sob os olhos do Sindicato. A parada será em 01 de maio.
- Hum, daqui um mês e meio. O Sindicato falou em paralisação nesse dia, mas poucas pessoas aderem.
- Eles aderirão, pois não haverá energia elétrica nesse país. Terá uma interrupção e isso é certo, pois confirmei com pessoas sérias e de confiança. (Substituir ao publicar para:)4
- Então, vamos à luta!
Jéssica havia percebido ter na web a única esperança a fim de lutar contra os opressores capitalistas de forma a atingir a opinião pública e estabelecer um debate.
No outro dia. Cinco da manhã. Carlos acordou antes dela. Ele pareceu animado. Preparou o café, acordou e arrumou as crianças, chamou a mulher e sairam. Chegaram à empresa quinze minutos antes de passar o cartão-ponto.
Haviam duas filas. Todas as pessoas tinham semblantes sonolentos e andavam devagar, talvez contra a vontade, diferente dos horários de almoço e de saída, além, claro, do seleto grupo de quem manda, com indivíduos sempre sorridente se risonhos, pois decerto o dinheiro ganho fazia-lhes muito bem. Dentro da empresa, o gerente e o supervisor exigiram explicações para a ausência do casal, porém elas não os convenceram.
- Vocês deveriam ter entrado depois do intervalo. A proibição de não poder entrar antes é disciplinar e inquestionável, pois estão garantindo nossos bons resultados. - Disse o gerente Pedro.
- Jéssica, sua ausência causou problemas na produtividade e na organização da produção. A meta diária não foi atingida. Você sabe que isso representa um menor rendimento mensal e a Daffiti pegando em nosso pé, porque demoramos para entregar os seus modelos de sapatos. - Disse asperamente o supervisor Adriano.
Pela primeira vez, ela pouco se importou com os sermões, pois foi mais importante passar a tarde com a família. Carlos, dessa vez, conseguiu ignorar os xingamentos e as grosserias de Diego. Como pode um chefe estudado, assim como a Jéssica ser tão autoritário e nojento? Bem, pensou Carlos, o mês passa rápido e o chefinho almofadinha, puxador de saco da gerência, rezaria para o retorno dos funcionários do setor e, até mesmo, dele.
A proposta foi feita no intervalo e por dias o casal explicou as motivações, os detalhes e as estratégias da greve, semelhante a uma resistência pacífica. Alguns se demonstraram contrários, pois receberiam pouco, poderiam perder o emprego e o movimento considerado ilegítimo, ilegal, já que aparentemente não existiria representação sindical. No entanto, o último argumento era infundado. Carlos era membro do Sindicato e o único que demonstrava vontade de agir em nome do proletariado. Seus argumentos conseguiram convencer no decorrer da semana os colegas mais próximos, depois os operários em geral e dois representantes sindicais, os quais informaram que a entidade estava desistindo da paralisação após conversas a portas fechadas com a gerência. Ainda na mesma semana, Jéssica e Carlos entregaram de casa em casa panfletos com instruções sobre o movimento. Eles evitaram fazer isso dentro da empresa, pois temiam a possibilidade de conflitos com a gerência e os camaleões do Sindicato.
Nesses dias, ela parecia uma daquelas universitárias líderes de movimentos estudantis que elaborava cartazes, pintava a cara e ia para as ruas, batendo panelas, gritando e conduzindo uma multidão por alguma necessidade justa, embora nunca houvesse participado de movimentos estudantis, pois o seu foco era estudo, trabalho e, pouco antes da formatura, o Guilherme.
- Acha que todos conseguirão acumular alimentos para uma longa parada?
Carlos ficou temeroso, com dúvidas e Jéssica hesitante para responder, por isso ele disse:
- Vocês intelectuais são tão idealistas que se esquecem das limitações da realidade dos funcionários da produção.
- Querido todos garantiram conseguir.
- Lembra que a gerência fará a gente ir ao limite. Aquela gente acha que quando a comida acabar voltaremos ao trabalho. Isso é bem possível.
- Se não fizermos isso não acabaremos com as regras autoritárias deles e lembre-se que o Sindicato apoia-as. Sacrifícios...
- Sim, meu anjo, eles são necessários.
Os dias, as semanas e o mês passaram. O evento da greve continuava a ser divulgado pelo Face través de um novo perfil de usuário, criado a fim de divulgar o movimento, instruir operários, debater e coordenar as ações. Graças aos filhos, aqueles aderiam ao movimento, informavam-se e debatiam as futuras ações.
Na empresa, quando o setor administrativo descobriu, o gerente e o dono da fábrica, um baixinho gordo, sempre de paletó e gravata, mesmo no verão, bufaram de raiva! Eles chamaram o presidente do sindicato para uma conversa, mas o barrigudo quase nada pode responder, excetuando a informação de que Carlos tentava organizar a greve de maio. Ele foi chamado e como forma de mostrar aos outros operários o que acontece a quem incita à greve: despedido.
- Acha que assim você coloca medo nas pessoas?
- Apareça amanhã para acertar e pegar suas coisas. Estamos com problemas de finanças e, por isso, começamos um programa de demissões. Espero que um dia você volte. - Disse dissimuladamente o gerente e Carlos silenciosamente saiu pensativo:
- Tão conveniente e pode abalar o movimento.
Para Jéssica aquilo foi a gota d'água.
- Não há nenhum programa de demissão. Eles nos informam nas reuniões. Eu saberia de antemão. Canalhas!
- Não podemos fazer nada, apenas cuidar para o nosso plano dar certo.
- Claro, querido.
- Ah, pega as crianças na escola?
- Sim.
Carlos beijou-a despendindo-se e saiu do quintal da fábrica, passou pela área de carga/descarga, onde uma carreta esperava para o carregamento, enquanto outra estava apenas parada, paralelamente com as grades que separam o prédio da rua, entrou na área de entrada/saída, olhou a alguns colegas apreciando o intervalo sentados nos bancos, passou pela guarita, gesticulou um cumprimento aos dois vigias de serviço e atingiu a rua. Ele ergueu a sua cabeça ao céu. Andou cinco minutos. Chuva. Lá, molhado, teve de competir com uma pequena multidão para embarcar no ônibus. Utilizou-se de três e, enxarcado, chegou em casa duas horas e meio depois, cansado e desejando apenas a cama. Dormiu toda a tarde e só acordou quando escutou o barrulho das crianças correndo pela sala e Jéssica tentando acalmá-las.
- Parem com isso! Vocês vão ir já pro banho!
- Jé?
- Oi, como você está? - Perhuntou ela, indo de encontro para abraçá-lo.
- Eu não me lembrava que era tão demorado para chegar em casa de ônibus, quando cheguei adormeci e não peguei as crianças na escola.
- Já tomou banho?
- Não.
- E foi deitar em nossa cama assim?!
- Pensei se poderíamos tomar banho juntos depois.
- Tah, vamos agora e você me ajuda a dar banho nas crianças. - Respondeu risonha Jéssica, empurrando-o para trás e vendo graça na expressão de desgosto de Carlos.
Nesse instante, ela concluiu que Carlos reagia bem à perda do emprego. Ele estava ciente da grande oferta de trabalho existente na cidade e, por isso, logo voltaria a trabalhar em outro lugar. Manualmente, era habilidoso. Portanto, outras fábricas poderiam acolhê-lo. Procuraria um trabalho novo depois de 01 de maio que seria no dia seguinte.
- Lembre-se de amanhã.
- Merda, esqueci!
O feriado veio. O evento da greve conseguiu através do Face mais adeptos do que se esperava, inclusive de operários de outras empresas. Todos demonstravam querer uma mudança e o abandono do modelo empresarial hierárquico, autoritário e velho, o qual garantia a subordinação total deles aos empresários e suas hordas de seguidores.
Havia um sentimento comum, todavia Carlos e Jéssica começaram a duvidar se esse debate, iniciado fazia mais de um mês desencadearia a grande paralisação proposta pela rede social. Teoricamente, sim, mas na prática não daria para saber, pois o evento é aleatório, totalmente dependente de ações individuais imprevisíveis.
- Acho que estou arrependido.
- Pense no lado bom, fomos pioneiros e se amanhã não houver ninguém lá?
- Teremos descoberto uma nova estratégia de greve trabalhista.
- Só por isso já valerá o esforço.
- Tomara.
Carlos fechou os olhos. Jéssica abraçou-se nele e dormiram. Cinco da manhã. O relógio despertou. Apenas ela acordou. Os anjinhos poderiam acordar mais tarde. Carlos levaria-os à escola.
- Estou indo, tenha um bom dia! - Sussurou Jéssica no ouvido de Carlos e depois de um beijo deixou o apartamento, desceu á garagem, embarcou no automóvel e dirigiu à empresa, sem encontrar trânsito intenso pelo caminho. Ela notou haver quase ninguém nas paradas, os ônibus urbanos vazios, poucas pessoas caminhando nas ruas, o silêncio e o ar fresco.
Na empresa, os operários ainda não haviam chegado, nem os chefes da produção, o supervisor e menos ainda o gerente. Jéssica chegou cedo. Os vigias permitiram que entrasse. Dentro, ela esperou. Os chefes de outros setores chegaram, depois Diego e às oito da manhã Pedro. As máquinas, esteiras, prensas e máquinas de corte, foram acionadas, mas nenhum operário apareceu para trabalhar. O gerente ficou perplexo. Chamou a todos a uma reunião informal.
- Pesssoal, eu não compreendo o que está acontecendo. O Sindicato garantiu não haver greve! - Pedro demonstrou perplexidade.
- Passaram a perna na gente! - Disse indignado Diego.
- Acho que vocês precisam estar cientes de um movimento grevista iniciado através da Internet. Ele deve ter abarcado nossos funcionários. Talvez tenhamos de começar a pensar em negociar.
- Absurdo!
- Um absurdo com reivindicações que estão comigo.
- É ilegal.
- Não, é apenas uma nova maneira de mostrar descontentamento.
Jéssica entregou uma folha com as reivindicações, deixou as instruções de como negociar e voltou ao apartamento. Carlos, sorridente, recebeu-a na portaria do prédio. Ela o abraçou fortemente. Estava excitada. A fábrica e outras indústrias pararam. Um prejuízo enorme aos empresários capitalistas que descobriram precisar reconhecer as reivindicações de seus operários, ter argumentos fundamentados e saber ceder quando não devem/podem contrariar.
- O gerente já disse que as punições por atraso serão extintas, mas quanto às outras reivindicações...
- Vamos com calma minha querida.
- Pode conseguir seu emprego de volta.
- Hum, não tenho mais interesse nele.
Eles subiram ao apartamento satisfeitos com a organização do movimento, o qual agora se regularia segundo o interesse da inteligência coletiva formada.

 Texto no formato PDF

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Lembranças ao voltar para casa

Autor: Itacir José Santim
O ônibus vindo de Porto Alegre parou ao lado da rodoviária situada na avenida principal de Muçum, pois não há box e nem espaço para um, o que causa transtornos ao transito de carros. Regina desembarcou tranquilamente e sorriu contente ao ver uma velha amiga lhe esperando. Elas se abraçaram. Depois de cinco anos morando na capital, tendo concluindo com honras a graduação em História, voltava para casa a fim de assumir o cargo de professora na escola em que tinha estudado. Da praça, a música atraiu as garotas.
A praça estava repleta de barracas e um grande palco havia sido montado sobre o “lonão” da avenida principal. Acontecia a Semana Farroupilha, maior evento tradicionalista da região. Mulheres de vestido de prensa e homens de pilcha dançavam um fandango naquele instante, enquanto um público atento assistia. Pelo acampamento, muitas rodas de chimarrão tinham se constituído e de mãos a cuia passava. Regina, ao ver tudo, demonstrava seu encanto através de risos e palavras denotando saudades.
-Gostaria de vir de noite e rever os outros também.
-Vamos marcar.
À noite, as garotas reviram os velhos amigos e divertiram-se. Elas conheceram alguns rapazes que demonstraram estar afins, mas Regina manteve-se indiferente. Uma triste lembrança surgiu em sua mente. Ícaro. Lembrava-se vagamente, pois, por algum motivo, essa memória foi suprimida. Conheceu-o fez dez anos no mesmo evento.
-Aline, eu vou embora.
-Por quê?
-Não me sentindo bem e amanhã tenho de trabalhar.
-Entendo. Tenha uma boa noite.
...
O primeiro dia de aula. Regina foi bem acolhida, conheceu o Projeto Político Pedagógico e ouviu da sua colega e ex-professora Mariane de História as atividades realizadas até aqueles dias. Isso devia passar segurança, mas não aconteceu. Sozinhas, antes da primeira aula, elas conversaram. Mariane quis demonstrou preocupação:
-O que passa nessa sua cabecinha, Re?
-Lembrei-me do Ícaro e de tudo que aconteceu. Talvez fosse melhor não ter voltado. Sinto-me com medo.
-Aqueles dias passaram e não há mais nada com que se preocupar, a não ser com suas turmas. Você gostava dele, foi bom, mas em nossas vidas as pessoas são passageiras. Quiçá você não conheça alguém tão incrível amanhã?
A sirene soou. Lá, na primeira sala de aula do primeiro prédio, ela estava estática, com medo de abrir a porta e enfrentar o outro lado. Alunos cheios de energia loucos para aprender e outros teimosos, resistentes, esperavam-na. Ela fechou os olhos e pensou estar indo para outro lugar, até que a professora Mariane tocou-a e fê-la voltar à consciência.
-Entre. -Disse a professora Mariane.
Os alunos demonstraram boa receptividade. Regina inovava nas aulas com suas ideias e instigava a curiosidade neles. Passaram dias, semanas e meses. Ela se habituou ao trabalho, apaixonou-se pela profissão e começou a sentir segura. Uma ilusão para outra história não contada.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Missão nas Estrelas II - A Viagem da Espaçonave Horizontes (Capítulo I - IV)



Capítulo I

Em algum lugar muito distante na nossa galáxia, numa época conhecida na História como o Período Negro de um Sistema Solar confinado pela maldade de alguns de seus habitantes. Nele, a vida humana tinha surgido há trezentos milhões de anos, juntamente com outras espécies que igualmente atingiram a civilização. Dali, parte nossos personagens.

Ano: 2585. Cidade das Estrelas. Órbita do terceiro Planeta. Dérlans.

O transporte espacial conduzindo o Almirante Ender Shin da superfície do planeta entrava na área orbital da maior metrópole fora da atmosfera já construída.
-Almirante, estamos nos aproximando da colônia. -Comunicou o Sr. Tetra.
-Já faz um bom tempo que eu não venho mais aqui. Contato?
-Positivo, Almirante e já temos permissão para atracagem. Depois, embarcaremos em outro transporte para a área de ancoragem da Armada.
-Ninguém pensa que eu resolvi depois de tanto tempo voltar à ativa.
-É verdade, Senhor.
Um leve solavanco confirmou o engate da nave em uma das câmaras de vácuo.
-Nós chegamos.
 
Ao leitor e a quem não me conhece ainda, sou o Almirante da Armada Espacial e ex-combatente da grande guerra contra os escorpianos Altabar Ender W Shin.
-Acompanhe-me, Senhor.
De um alto falante, escutou-se uma voz feminina e metálica:
-Atenção. Último transporte para a superfície partindo em quinze minutos. Última chamada para o transporte à Terceira Lua.
-Lá está o nosso transporte. -Apontou o Sr. Tetra. -Vamos embarcar.
-Gimm. -A escotilha abriu.
-Controle, aqui é o Transporte 2852 solicitando permissão para desatracar.
-2852 permissão concedida.
Os propulsores acenderam, a nave rapidamente deixou o ambiente interno do porto espacial e colocou-se nas vias entre os prédios orbitais interligados por longas tubulações que serviam de caminhos para veículos internos e pedestres.


-Capitão, nós vamos ter de diminuir a velocidade., pois temos um cargueiro em nossa frente.
-Passe por baixo, eu vejo a saída. -Respondeu o Almirante que voltava a capitanear uma nave.
-Giamm!
Raspando, a pequena nave espacial passou sob o cargueiro e ambos continuaram seus rumos ininterruptos.


Depois das duas grandes guerras, a contra Iscorpi e depois a invasão de Zark, o Terceiro Planeta começou a mudar de forma tecnológica e econômica. A legislação sobre a imigração extraplanetária depois da invasão de arienianos que não conseguiram deixa r o sistema solar tornou-se mais rígida, porém eles tiveram de ser tolerados por questão de solidariedade.
-Almirante, estamos nos aproximando do Cruzador Horizontes.
-Estamos atrasados.
-No horário. Aqui é o Capitão Tetra para nave Horizontes. Solicito permissão para atracar.
-Aqui Horizontes. Solicitação concedida. Desacelerem e prepare-se para transferir o controle da nave para nossa torre.
Um minuto depois, a pequena nave de asas entrava no hangar sob o controle dos controladores de tráfego da Horizontes e baixava seus trens de pouso. Enquanto isso, a nave Horizontes acelerava a fim de deixar a órbita do planeta. As luas planetárias pareciam próximas umas das outras e o sol surgiu entre elas.


II
A escotilha do hangar fechou e ele foi repressurizado. De pé, perto do transporte estava o Primeiro Oficial Sr. Thirty à espera de seu antigo Capitão.

-Almirante, é uma honra revê-lo.

-Estou aqui como Capitão para reassumir o comando da nave.

-É uma excelente notícia, Sr!

-Os motores já foram carregados para o nosso salto interestelar?

-Carreguei-os antes de ir buscá-lo, mas preciso realizar um teste antes. -Respondeu o Sr. Tetra.

-Quero que a nave acelere até a velocidade da luz, imediatamente.

O mais rápido que as naves estelares do Terceiro Planeta conseguiam chegar eram os 300 000 Km/s que a luz percorre no vácuo. O Cruzador Horizontes havia sido a primeira nave estelar construída pela civilização derlaniana para atingir as estrelas sem depender do apoio de terceiros. Quando ela converge ao hiperespaço sua velocidade aumenta incrivelmente. Para missões de exploração em outros planetas, grandes naves de serviço projetadas para voos dentro de atmosferas estão estacionadas no hangar principal. Nessa nova missão, a República Planetária e a Liga Interplanetária decidiram enviar a espaçonave para tentar comprovar a veracidade de uma lenda antiga sobre a formação de um Reino Estelar pela civilização humana que havia colonizado o sistema solar. Infelizmente, Zark também enviou uma expedição e poderá destruir o suposto planeta se chegar antes.

Pelos corredores laterais, enquanto caminhavam até a ponte de comando o agora novamente Capitão Ender Shin e o Comandante Thirty dialogaram sobre quando saltariam ao hiperespaço e estranhas perturbações descobertas ao redor da estrela que eles visitariam.
-Capitão, nós atingiremos a velocidade necessária para o salto em trinta minutos e esperamos que o Sr. Informa nossas novas coordenadas.
- ...
-Há algum problema?
-Não, exatamente. Descobri uma oscilação estranha na estrela Mira que é o nosso destino e seus quatro planetas. Há rumores vindos dos planetas de Zark que lá existe um mundo com uma civilização técnica desenvolvendo-se, porém os adversários negam-os.
-É uma possibilidade remota, pois nossas sondas nunca revelaram nada, porém Zark sempre mente e seu governo enviou quatro cruzadores estelares para aquele setor.
-Quatro?! Muitas naves grandes para um setor sem ninguém. Estranho.
O Capitão chamou a ponte de comando pelo interfone:
-Ponte?
-Aqui é a ponte.
-Ordens para efetuar o salto.
-Entendido. Iniciando sequência de convergência ao hiperespaço.
A nave tremeu. Ouviu-se o som dos motores e sentiu-se uma grande explosão de energia.
-Giamm! Giiibrrrrrr!


 
Instantes depois na ponte de comando, Ender Shin informava em seu diário o rumo e o destino da espaçonave:
-Traçamos curso para o Sistema Planetário Mira situado no setor de Épsilon Eridani, onde conforme nossas ordens faremos uma busca exoplanetária.
-Estamos conseguindo manter o atalho estável e nossos campos de contenção impedindo o contato da matéria exótica com o casco da nave, mas...
-Problemas, Comandante?
-Monitoramos uma comunicação hiperespacial para um encouraçado de Zark e possivelmente seja a nau do Imperador. Possivelmente, estão realizando manobras...
-Se fosse manobra de treinamento para combate as transmissões estariam sendo realizadas pelo espaço comum e comunicações pelo hiperespaço simuladas por computador. Acho que Zark está vindo em nossa direção ou indo ao mesmo destino, conforme suspeitamos.
O velho Almirante tinha poucas dúvidas sobre essa questão e temia, como qualquer bom comandante, um enfrentamento logo que saltassem ao espaço normal novamente. 

III
 
-Giiibrrrrrr!
Os quatro propulsores do enorme cruzador de Zark novamente expeliam trilhões de toneladas de plasma tão quente quanto o de qualquer estrela amarela. A nave colocava-se numa órbita mais próxima do sol de Mira e, assim, desviava da investida de outra nave, cujos propulsores recentemente haviam sido desligados e seu movimento acelerado era mantido por inércia.
-Cruzador Alfa vamos repetir a manobra.
-Entendido General Kalar e alertamos sobre o risco de colisão com nossa proximidade. -Respondia por rádio o Capitão da outra nave.
-Temos uma comunicação do Imperador. -Informou o Oficial de Comunicações.
-Abra um canal.
-General Kalar.
-Imperador que honra em falar com Vossa Maioria.
-Desde a grande guerra que derrotou a civilização escorpiana e derrubou o escudo que isolava o seu sistema você tem prestado grandes serviços ao Império e agora confio-lhe uma nova missão. Impedir uma nave da Liga de penetrar nesse sistema solar e vasculhar seus planetas. O Senhor já os enfrentou antes e deverá sair vitorioso. A nave enviada é a Horizontes. Um cruzador obsoleto e que suas armas aposentá-lo-ão.
O Imperador lembrava-se que há noventa e cinco anos Zark de certa forma havia sido o maior aliado dos escorpianos, espécie a qual o General pertence e invadido o sistema solar, sede da Liga Interplanetária, a fim de dominar todas as civilizações técnicas e estabelecer um império escorpiano favorável a Zark. Houve, para isso, o apoio de alguns partidários da Monarquia dos “aguilhões”. O projeto fracassou e a ação seguinte de ataque primeiramente ao planeta dos escorpianos não passou de um ato de vingança por esse governo estar apoiando os fugitivos arienianos.
A voz do Imperador era lenta, gélida e grave. Ele pronunciava sílaba por sílaba de cada palavra proferida a fim de ter certeza que seus subordinados compreendessem bem suas ordens antes de implementá-las. Indicava também um formalismo exacerbado.
-Estamos concluindo uma manobra nesse momento.
-Um bom disfarce para esconder o que descobrimos e nossas pretensões.
-Claro. -Encerrou-se a comunicação.
-General a Horizontes acaba de saltar e está desacelerando usando os propulsores convencionais.
-Abrir frequência de comunicações e transferir potência aos propulsores.
Novamente, a grande nave discoide movia-se. O cruzador Horizontes entrava em órbita da estrela Mira, enquanto acertava uma nova trajetória para o terceiro planeta do sistema. Único mundo com algumas condições para suportar vida, porém nenhuma sonda enviada a ele confirmava a lenda de haver uma civilização técnica e capaz de trazer os mundos em guerra de volta à paz.



O alarme informando a aproximação de uma nave hostil sibilou intensa e continuamente por todos os compartimentos. Toda a tripulação rapidamente dirigiu-se para suas devidas estações de trabalho e aguardaram novas instruções. Ender Shin encontrava-se no escritório e seu Imediato estava no comando. Por interfone:
-Ponte para o Capitão.
-Qual o problema Comandante?
-Um cruzador estelar Zark está se aproximando e seu comandante exige nossa mudança de destino e de trajetória.
-Ignore. Mantenha o curso e nossa trajetória atuais.
-Tchiamm! Bumm! Aaaah!
-Tripulação para postos de combate. Tente levantar nossos escudos. Indo para a ponte.
A Horizontes recebeu um duro golpe. O ataque foi repentino, mas o casco conseguiu absorver boa parte da energia. De repente, acontece um segundo.
-Tchiamm! Tchiamm! Bumm! Bumm!
-Escudos de energia perdendo força e mudando fonte para energia de reserva!
O cruzador inimigo aproximava-se e a Horizontes acionava seus quatro propulsores em reversão para se afastar. Ender Shin havia entrado na ponte de comando. Os oficiais estavam nervosos e temerosos. Aquela nave era muito poderosa. Não daria para derrotá-la. Ele, sorridentemente, falou:
-Eu conheço esses cruzadores! Seus propulsores consumem a maior parte da energia dos motores e quando estão acelerando as armas irradiantes tornam-se mais fracas. Armar os quatro emissores principais e esperem aquela nave acelerar. Engenharia acelerem em reverso.
-Mas, Capitão?!
-Confiem em mim.
-Agora! Fogo!
Os propulsores do cruzador Zark expeliram uma grande quantidade de plasma. Ele virou e disparou uma rajada de energia radiante ao mesmo tempo que a Horizontes. Ambas as espaçonaves foram atingidas.
-Tchiamm! Tchiamm! Bumm! Bumm!
O casco inferior de proa da Horizontes estava em chamas. Uma seção da nave inimiga também e ela afastava-se. Tinha de evitar a destruição.
 
Enquanto isso, o cruzador que participava da simulação de combate anteriormente havia surgido do outro lado do sol de Mira e desacelerava. Suas escotilhas superiores abriam-se, mas no momento nada saía de dentro dos orifícios.
-O casco da nave inimiga tem um rombo e seus escudos foram danificados.
-Foi uma excelente manobra.
-Sugiro usar os emissores da proa e concluir com a destruição da nave.
-Concordo. Artilharia fogo!
-Tchiamm! Bumm! Bumm!
A batalha havia sido vencida e agora a Horizontes libertava-se de uma grande ameaça para explorar o sistema solar e encontrar o planeta perdido. Seus eficientes sensores podiam rastrear planetas mesmo há muitos bilhões de quilômetros distante da área de influência gravitacional do Sol de Mira.
IV

Nave do Império Zark
 
-General, aqueles malditos destruíram nosso cruzador! -O arieniano emissário do Imperador e Imediato do General kalar lamentou com fúria. Aconteceu o imprevisto. A poderosa espaçonave discoide foi destruída por falha estratégica.
-A tripulação daquela nave pereceu por incompetência, porém devemos considerar que o Capitão da Horizontes participou da Grande Guerra que começou aniquilando as bases escorpianas no Terceiro Planeta.
-Quais nossas novas instruções?
-Eu estou preparando uma coisa nova. Uma armadilha para tomar aquela nave. Daremos inicialmente espaço a ela. Lembre-se que não podemos arriscar nosso objetivo com ações imprudentes.
-Vamos distrai-los, isolá-los e enviar uma força de desembarque.
-Parece algo difícil de se realizar.
-Difícil, mas não impossível.


À noite, mais por convenção da tripulação, o Capitão e seu Imediato tiveram um pouco de sossego durante um tranquilo jantar, onde puderam dialogar sobre algumas atitudes recentes tomadas por parte da esquadra inimiga que aparentemente se afastava do Sistema de Mira.
-Almirante, as transmissões que rastreávamos pararam e todas as naves da frota de Zark parecem ter desaparecido do sistema. Eu estou considerando que a Liga errou ao considerar a lenda como algo possível e que Zark pretende usar esse setor como base de operações para expandir o seu império. Teríamos, então, um reino de terror.
-Acha possível que Zark esconde uma base aqui?
-Sem dúvida, Almirante. Esses Zark há um século apoiaram os escorpianos para evitar o fim do nosso isolamento e falharam.
-Eu estive na guerra, assim como você, mas a história tem distorções. Agora, eles querem recomeçar com isso. Ah, mas se nesse sistema houver algo que valha nossa proteção não deixarei que Zark tome par si.
Nesse instante, tão prazeroso pela comida apetitosa à mesa, eles não consideravam a possibilidade de a Horizontes ser emboscada. O vinho cinderiano tinha um gosto que fazia o Comandante Thirty segurá-lo na boca por até um minuto. O jantar acabou. Eles voltaram ao comando.
-E ai?
-Tem alguma coisa errada aqui. -Murmurou pensativo o Comandante Thirty.
-Estranho, pois há pouco tempo os sensores indicavam haver várias naves por aqui e se tivessem saltado...
-Teríamos descoberto. -Interrompeu o Capitão Shin. O piloto da nave ao proferir essas palavras essas palavras estava certo.
-Camuflagem? -Argumentou o Comandante Thirty.
-Talvez.
-Ou escondida em algum lugar.
-Em qual? Não há lugar para esconder naves gigantes.

-Devemos contatar o nosso planeta?
-Temos ordens para manter silenciosos os canais hiperespaciais e considero que o que ocorreu pode não se repetir, pois pela Convenção Galáctica uma nave de exploração como a nossa não pode ser atacada.
-Não pode, mas fizeram e motivo eles possuem.
-Preparem o lançamento das sondas para os planetas e vamos usá-las para encontrar as naves inimigas.
Uma nave na tela de radar do console de navegação e um alarme interromperam a reflexão.
-Tam! Tam! Tam! …
-Acho que não é mais preciso, Almirante.
-Alerta Vermelho! Todos para seus postos de batalha! Thirty mande preparar uma nave de serviços para lançar na direção da oscilação que você rastreou quando houver uma oportunidade de distração.
-Sim, Capitão.
-Quero comunicação com aquela nave.
-Temos os canais abertos. Um General imperial comanda.
-Polarize a tela.
-Aqui é o Capitão Ender Shin da nave Horizontes.
Quando a imagem do escorpiano surgiu, Ender Shin surpreendeu-se:
-General Kalar! Éramos... bons amigos desde...
-Há quanto tempo Ender!

O general gravemente prosseguiu:

-Eu serei direto ao assunto. Se vocês não alterarem seu destino e a trajetória da nave, nós não teremos piedade alguma. Atacaremos.

-Virou bandido agora? O que o fez mudar de lado?

-Vocês provocaram destruindo uma nave. Agir da mesma forma e com a mesma intensidade é justificável.

-Discordo.

-Sua resposta?

-Não!

-Atacaremos.

-A transmissão foi encerrada da nave do General. -Informou o Imdediato.

-Capitão, há mais dois cruzadores colocando-se próximos de nós. Estavam ocultados na atmosfera de um planeta gasoso. O esconderijo perfeito.

-A nave do General está energizando suas armas dianteiras.


Enquanto isso, a nave de serviços decolava do hangar principal, cujas portas vagarosamente havia iniciado a abertura.

-Trilhos energizados. Acionando propulsores de impulso.

-Giiiiiibrrrrrr!

-Acelerando.

-Giamm!

A pequena nave aerodinâmica estava no espaço.

-Droga! -Exclamou o piloto por rádio. -Torre, temos um cruzador sob nós.

-Tchiamm!

Na frente da primeira nave, um rastro flamejante cruzou e bateu no costado da Horizontes que estremeceu.

-Brrrrrrr!

Os alarmes interiores dificultavam que os oficiais falassem e escutassem.

-Relatório Comandante.

-Rombo no casco, escudo danificado e perdemos metade da nossa força de propulsão.

-Eles sabiam que lançariamos uma nave. -O Capitão assombrou-se com a possibilidade. -Pode haver um espião a bordo.

-Invasão no hangar.

-Alerta de invasão. Toda equipe de segurança alerta. Intrusos no hangar. -A voz feminina e metálica continuava a falar esse aviso.

Por interfone, o Imediato ordenou:

-Todas as alas temos condição nível três.


O General Kalar esperou uma nave ser lançada para rapidamente enviar suas forças iniciar a abordagem da Horizontes. Os invasores começaram a desembarcar e eram duramente reprimidos pelos soldados da segurança. Uma nave invasora foi atingida por um membro do grupo de combate em gravidade zero.

-Tchiumm! Bumm!

-Abaixem-se!

-Tchiumm.

-Nunca entre sem permissão na minha nave! -Exclamava um dos soldados.

...


O salto interestelar já não podia mais ser realizado. Parte da tripulação preparava-se para se dirigir às áreas de fuga e o Capitão teve a ideia de usar um aparelho ainda em fase experimental para transportar cargas a fim de viajar ao planeta, cujos sensores confirmavam a existência. Ele considerou a nave perdida e não desejava mais recuperá-la, mas completar a missão e salvar a tripulação.
-Conseguiram contato com a equipe de exploração?
-Nada ainda.
-Acompanhe-me.
Ender e Thirty deixaram o comando. Pegaram um elevador em meio à correria de oficiais e à luta corpo a corpo que se aproximava. Felizmente, ela permanecia no hangar principal. Os invasores, por ora, encontravam-se impotentes a bordo.
-Estamos conseguindo deter os soldados no hangar, mas não sei até quando. O General está no hiperespaço há duas horas daqui.
-Comandante, evacue a tripulação da nave se a invasão não puder ser controlada e eu vou completar a missão. -Cruzou uma porta.
-Mas, Almirante?!
O compartimento onde os dois achavam-se estava sendo usado como local de testes a uma nova invenção da Liga Interplanetária.
-Almirante, o Senhor pretende usar o teletransporte quântico?
-Sim.
-Mas, ele só é experimental e apenas para o transporte de cargas, não de pessoas.
-Se o computador armazena na memória a configuração de uma caixa de suprimentos, ele também fará o mesmo comigo.
-Não é seguro, pois o Senhor pode ser reintegrado sem vida.
-Risco válido pelo bem de nosso planeta.
-Escaneie-me e ative.
-Sim, Senhor.
O teletransporte aconteceu, enquanto isso os invasores moviam-se para a ponte de comando. Haviam cabos elétricos soltos do teto, paredes rachadas e queimadas, principalmente no hangar, feridos quedados esperando ajuda médica e oficiais continuando a luta. Era preciso evitar a dominação da ponte de comando e da sala de máquinas. O Imediato após concluir o transporte de seu Capitão voltou ao comando.

-Senhor, o cruzador que enviou a força de abordagem está se afastando.

-Reverter motores, afastar e preparar para disparar o que resta de energia nas armas da proa.
Um planeta pequeno, de atmosfera avermelhada e com nuvens escuras muito quentes, escondido entre as órbitas de dois mundos gasosos gigantes foi o lugar onde Ender Shin rematerializou-se. Ali, um estranho alienígena recebeu-o. A lenda, então, seria verdadeira? Haveria uma raça capaz de impor o fim da tirania de Zark?

-Capitão Ender Shin?

-Fala minha língua! Ótimo!

-Preciso encontrar uma nave que pousou aqui e...

-Sua nave pousou perto de um vulcão ativo e resgatamos sua tripulação. A propósito seja bem vindo ao Planeta Negro. Estamos em meio a um processo de metamorfose planetária aqui, adaptando o planeta para receber habitantes.

-Achamos que poderíamos encontrar aqui uma civilização técnica mais avançada que a qual eu pertenço do Terceiro Planeta ou de qualquer membro da Liga Interplanetária e a solução para nosso conflito com Zark.

-Só há uma base de pesquisa e a nossa nave aqui. -Respondeu o alienígena enquanto caminhavam. -Hum. Vieram atrás de um milagre. Zark tornou-se uma ameaça real a todo esse setor, porém meu governo pode detê-lo e proteger esse setor.

Eles entraram nas instalações de pesquisa. O anfitrião pertencia a uma civilização que vive em Épsilon Eridani. Ender Shin não viu nada que o impressionasse como havia imaginado. Ali, ele encontrou a tripulação da nave de serviços enviada para explorar o planeta.

-Capitão!

-Vejo que todos estão bem e alegro-me!

-Encontramos uma nave Zark na órbita e nosso novo amigo afastou-a.

-Eles queriam este mundo como base para expansão pelo setor, mas não contavam que este sistema pertence a Épsilon Eridani e que nosso governo enviaria uma missão para expulsá-los e garantir a posse definitiva desse mundo.

O alienígena ativou a tela de um computador e disse:


-Sua nave causou sérios danos a um cruzador de Zark e parece estar com pouco danos. Enquanto isso, as outras naves da frota inimiga estão se afastando do sistema e saltando numa área fora do alcance de nossos sensores.

-Isso me alivia.

A imagem captada foi o último ataque com os quatro emissores de radiação desintegradora da proa da Horizontes. A nave inimiga foi despressurizada e precisou ser abandonada. O General Kalar, seu comandante, tinha escapado.

Tempo depois, Ender Shin e a equipe de exploração decolaram na nave de serviço consertada pelos colonizadores daquele mundo que passava por uma mega transformação artificial e voaram para a Horizontes que passava por seus primeiros consertos e manobrava para deixar o sistema de Mira, porém demoraria dias até sua capacidade de salto ser restaurada. Nele, talvez, um novo aliado houvesse sido encontrado. Ali, Zark nunca mais ousaria invadir!


Não é justo escrever fim quando haverão outras aventuras.



No próximo episódio:

Zark faz um bloqueio contra naves da Liga e planeja dominar um mundo com uma civilização em desenvolvimento. Pelo menos, isso era o que se pensava até Ender Shin desembarcar com sua tripulação e descobrir algo novo, inesperado.