Autor:
Itacir José Santim
No
século XVI a vida humana continuava sendo organizada conforme o
calendário, o horário e os ritos religiosos. Os chamados dias
santos eram respeitados. Aos sábados e nas vésperas das festas, a
jornada de trabalho era reduzida para a preparação das cerimônias
religiosas do dia seguinte. A morte como na Idade Média ainda
preocupava muito as pessoas que desejavam saber com antecipação o
que aconteceria a elas depois que morressem: iriam ao inferno, ao
paraíso ou ao purgatório. Muitas pessoas temerosas e com recursos
financeiros tentavam buscar uma solução para esse medo através da
compra do perdão de Deus (Indulgência) vendido pela Igreja.
Se a pessoa em vida tivesse cometido pecados considerados leves e
pudessem ser redimidos após morrer ela passaria algum tempo no
inferno do meio, conhecido como Purgatório, espécie de
inferno temporário, onde passaria por muitos suplícios até ser
recompensada com a entrada no paraíso. Seria, então, preciso que a
mesma possuísse algum familiar vivo com recursos financeiros. Para
isso, o familiar deveria comprar alguma indulgência ou fazer alguma
boa obra em nome de quem morreu, assim o tempo de sofrimento poderia
ser reduzido ou até mesmo cancelado. Se a pessoa morta fosse um
usurário, pessoas que emprestavam dinheiro a juros, tudo o
que ela recebeu a mais teria de ser devolvido para receber o perdão
divino, senão deveria permanecer no Purgatório.
O clero nesse período
era constituído por dois grupos: o
alto clero e o baixo
clero. Os membros do alto clero
eram originários da nobreza e levavam uma vida luxuosa. Pode-se
afirmar que eles sempre conseguiam os cargos maiores, mesmo sem ter
as atribuições necessárias. Leiam esta crítica extraída do livro
História geral das
civilizações: os séculos XVI E XVII: os progressos da civilização
europeia de Maurice
Crouzet (1995):
Essa companhia de cônegos de Notre-Damme, recrutada na
alta burguesia ou na nobreza, e entre os teólogos e canonistas mais
reputados, mostra-se antes de tudo ciosa de administrar os bens da
Igreja e defender os seus direitos e seus privilégios. Os curas das
paróquias urbanas de Paris imitam-na. Mas o clero das cidades de
província também se ocupa principalmente dos rendimentos de suas
castelanias, de suas rendas e de seus dízimos. (p. 94)
Sabe-se
também que a vida religiosa era destinada aos filhos mais novos das
famílias nobres para evitar a divisão da herança. Já o baixo
clero compunha-se de pessoas vindas de famílias pobres e sem
prestígio, sendo muitos analfabetos. Eles
precisam brigar com os beneficiários de suas paróquias para
conseguir alguns centavos e/ou administrar algum negócio como lojas
ou albergues com suas famílias e possuem maus costumes: bebem,
brigam, jogam etc, conforme
o autor acima citado.
A
religião tinha se tornado uma sucessão de ritos mecanizados,
repetitivos, pois dizia-se apenas palavras e repetia-se os gestos,
era preciso acreditar naquilo que a Igreja afirmava, mesmo se
contradissesse as Escrituras e nela própria. Nesse contexto,
surgiram dois humanistas, os
quais passaram a criticar ferrenhamente a Igreja e seus dogmas.
Erasmo de Rotterdam e Martinho Lutero, porém eles divergiram entre
si. O primeiro escreveu o
famoso O Elofio da
Loucura e
o segundo no Sacro Império Romano Germânico fundou a Igreja
Luterana,
cujas
características estão abaixo:
Quadro Comparativo entre
Reforma Luterana e Reforma católica
Reforma Luterana
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Reforma Católica (Contrarreforma)
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A Bíblia é a única fonte da verdade divina e
deve ser lida livremente por todas as pessoas.
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A Bíblia só pode ser lida e interpretada por
membros do clero.
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Fim da hierarquia eclesiástica e do celibato.
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Manutenção do celibato e da hierarquia na
Igreja.
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Abolição dos cinco dos sete sacramentos,
restando somente o batismo e a eucaristia (comunhão)
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Manutenção dos sete sacramentos: Batismo,
Eucaristia, crisma, Penitência ou Confissão, Ordem, Unção dos
Enfermos e Matrimônio
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Negação da presença era do corpo e sangue de
Cristo na hóstia e no vinho.
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A Igreja Católica manteve a crença,
confirmando-as no Concílio de Trento.
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Fim do culto das imagens e santos
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Confirmação do culto de imagens e santos.
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O
sacerdote
francês convertido
ao luteranismo, João
calvino (1519 – 1564) influenciado por Lutero foi mais longe.
Registrou sua obra em Instituição da religião cristã, pela
qual pregava
a aceitação
exclusiva das sagradas escrituras, a
predestinação e a eliminação das imagens de santos. O calvinismo
surgido na Suíça
ensinava que o lucro não
era pecado e que a única maneira de alguém saber se estava
predestinado à salvação era vencer nas relações econômicas com
muito trabalho.
Na
Inglaterra, o Rei Henrique VIII agindo mais por motivos
políticos e religiosos rompe com o Papa em 1534 e publica o Ato de
Supremacia. Nos anos posteriores a Inglaterra oscilou entre o
Protestantismo e o Catolicismo. Os puritanos aderiram
definitivamente às doutrinas calvinistas, dividindo o reino que
levariam às Revoluções Inglesas do século XVII.
Enquanto
isso, a Igreja Católica realizava a contrarreforma.
A Inquisição
ressurgiu, a Companhia
de Jesus
foi criada para difundir o catolicismo, livros foram proibidos
através de uma lista chamada Índex
e não houve nenhuma alteração da doutrina, conforme definiu os
dezoito anos do Concílio
de Trento,
reunião realizada de 1545 a 1563, pela
qual aconteceu a condenação do protestantismo, estabeleceu a
doutrina sobre a autoridade do papa, as indulgências, os
sacramentos, definiu os deveres e obrigações dos bispos,
estabeleceu a regulamentação de formação do clero em seminários,
manteve o celibato, proibiu a intromissão dos reis nos negócios
eclesiásticos, confirmou o culto dos santos, o
carácter indissolúvel do casamento,
a crença no purgatório
e organizou a congregação
do índex.
Apesar disso tudo,
ela já não detinha mais seu monopólio de poder. Essas grandes
mudanças estimularam o desenvolvimento capitalista e
Lutero incentivou a alfabetização. Também
muitas
guerras religiosas aconteceram por
toda a Europa, causando como consequência a fuga de milhares de
pessoas para a América do Norte, constituindo, por exemplo, as Treze
Colônias
da América.
Referências:
BRAICK,
Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: Das Cavernas ao
Terceiro Milênio – Da Formação da Europa Medieval à Colonização
do Continente Americano. 2° Ed, Moderna, São Paulo, 2006.
CROUZET,
Maurice. História geral das civilizações: os
séculos XVI e XVII: os progressos da civilização europeia,
Bertrand, Rio de Janeiro, 1995.
FIGUEIRA,
Divalte Garcia. História. Editora Ática, São Paulo, 2005.
SOUZA,
Osvaldo Rodrigues. História moderna e contemporânea. Ática,
São Paulo, 1988.