Saindo da literatura para História
Breve História da Idade Média
Clique caso você deseje baixar este texto em PDF pelo Recanto das Letras
Autor: Itacir José Santim
O objetivo desse artigo é esboçar um resumo sobre Idade Média que pode ser usado em sala de aula. A fase denominada de Idade Média iniciou com a ruína do Império
Romano no de 476 e teve como características básicas: a
predominância do feudalismo que foi uma estrutura econômica,
social, política e cultural que surgiu na Europa em substituição à
estrutura escravista da Antiguidade romana. Com a ruína de Roma e o
fim do escravismo, a população abandonou a cidade e procurou
sobrevivência no campo. As invasões dos povos bárbaros,
principalmente os germânicos, ajudaram a acelerar a queda do Império
Romano Ocidental, a ruralização e a implantação do feudalismo.
Durante esse período, outros povos também ocuparam partes da
Europa, como os árabes no Mediterrâneo durante século VIII,
impossibilitando as ligações comerciais entre o ocidente e o
oriente. No século IX, ainda aconteceram as invasões normandas e
magiares. Sobre o seu fim, vários historiadores consideram
diferentes acontecimentos e épocas para a periodização. Alguns
afirmam que ela terminou com a queda de Constantinopla em 1453,
outros com a descoberta da América em 1492 e ainda o ano de 1800,
por causa da Revolução Industrial.
Anteriormente, também foi mencionado que a base de toda a economia
da Idade Média era agrária e de subsistência. A propriedade
feudal pertencia a uma camada
privilegiada, sendo o feudo a principal unidade econômica. Ele se
dividia em três partes: manso senhorial ou domínio, manso comunal e
manso servil. Devido às obrigações (talha, corveia etc) que os
servos tinham, eles não se sentiam estimulados a aumentar a
produção. A principal técnica usada foi a rotatividade ou
agricultura de três campos. Caracteristicamente,
a sociedade apresentou-se segmentada em estamentos fixos. Nobreza, o
clero e servos. Haviam os vilões que tinham menos deveres e mais
liberdade. A escravidão foi
rara nessa época. Os nobres
que cediam as terras eram os suseranos e
os que recebiam se tornavam
vassalos.
Disso surgia uma relação recíproca de dependência.
Vimos
que durante o fim do Império Romano muitos
povos estrangeiros que ocupavam aquelas terras formaram seus próprios
reinos e monarquias. O mais destacado foi o reino germânico dos
francos que alcançou destaque na Alta Média (séculos
IV ao IX) quando se formou o sistema feudal exatamente nesse local,
onde hoje corresponde à França e Alemanha. Esse reino ficou
conhecido como o Império Carolíngio e em 800 Carlos Magno foi
coroado imperador, apoiado pelo Papa Leão III que desejava expandir
o Catolicismo. Durante a dinastia carolíngia o Império atingiu
grandes extensões, o que gerou dificuldades para administração que
foram solucionadas com o contrato
de fidelidade.
Disso surgiu o costume de vassalagem e suserania, porém isso
enfraquecia o poder real. Vejamos
alguns trechos do
livro
Feudalismo: uma
sociedade
religiosa,
guerreira,
e camponesa:
Hilário Franco Júnior afirma que
“os reis merovíngios
remuneravam seus servidores entregando a cada um deles uma extensão
de terra a título de beneficium em troca de determinados benefícios
prestados. Tal concessão era vitalícia, mas, como quase sempre era
renovada em favor do herdeiro do concessionário falecido,...”
(JÚNIOR, Hilário Franco,
20012, p.12).
Muitas vezes o
detentor do benefício recebia um importante privilégio, que
esvaziava ainda mais poder monárquico: a imunidade (immunitas). Por
causa dela, determinados territórios ficavam livres da presença de
funcionários reais,... Assim, o tornava-se detentor de poderes de
pobres regalianos (isto é, inerentes ao rei), o que lhes permitia
nos seus domínios exercer funções administrativas, aplicar
justiça, realizar recrutamento militar, cobrar
impostos e multas. (...) (FRANCO
JÚNIOR, Hilário, 2012
p.12).
“Os reis perdiam de seu poder de
nomear e destituir seus representantes provinciais (duques,
marqueses, condes), cujos
cargos tornavam-se bens pessoais ou hereditários. (...)” (FRANCO
JÚNIOR, Hilário, 2012
p.13).
Carlos Magno morreu no ano de 814, iniciando à fragmentação do
Império com a partilha entre seus filhos. Com a morte repentina de
dois dos herdeiros, Pepino e Carlos, Luís tornou-se o único
governante e preferiu dividir o Império entre seus três filhos,
porém um quarto filho nasceu e ele decidiu fazer uma nova
repartição, gerando revolta contra o pai. Em 843, assinado o
Tratado de Verdún as disputas terminaram.
As invasões dos Vikings, Muçulmanos e Húngaros aconteceram por ter
diminuído o poder central e aumentado a autonomia dos feudos. O
islamismo, então, passou a dominar o Oriente, a África do Norte, a
Península Ibérica, partes do sul italiano e ilhas do mediterrâneo.
Até o ano de 1453 onde atualmente é a Turquia continuou existindo o
Império Romano do Oriente ou Bizantino, cuja capital era
Constantinopla, atual Istambul. Nas ilhas britânicas formaram-se os
Reinos Anglo Saxônicos.
Nessa
época, a Igreja cristã tornou-se a mais poderosa instituição
feudal do ocidente europeu. Acreditava-se
que o clero cristão tinha sido escolhido, instruído e investido de
poderes pela Divindade. Cristo escolheu os discípulos, primeiros
bispos e estes outros. Ela
se considerava a herdeira do Império Romano, formava uma sociedade
autônoma e organização de leis, além de ter um grande poderio
econômico. Firmou
aos poucos uma mentalidade simbólica que via no mundo um grande
enigma decifrável somente pela fé. O
mundo ganhou sentido intermediado por Deus e a razão passou a ser
vista como instrumento diabólico que afastava o homem da verdade.
Todavia,
o lado mais negro da Igreja Católica também surgiu nesse período
com a criação da Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício no
século XII para perseguir aqueles que contrariavam a fé cristã.
O
período conhecido como Baixa
Idade Média (séculos
X a XV) foi marcado por grandes transformações na sociedade. Houve
um crescimento populacional razoável que era barrado pelo modo
feudal de produção e exigiu melhorias das técnicas agrícolas,
porém mesmo com elas não havia estímulo ao servo produzir mais,
devido às tributações. Nessa época, as Cruzadas convocadas pelo
Papa Urbano II em 1095 começaram, terminando em 1270. Elas
possibilitaram o Renascimento Comercial, beneficiando principalmente
as cidades italianas de Gênova e Veneza, estimularam
inovações na construção naval, estabeleceram novas rotas
comerciais e os produtos orientais aumentaram as possibilidades de
enriquecimento. Os
contatos por rotas terrestres e fluviais entre o norte e sul do
continente europeu intensificaram-se. Surgiram as feiras, locais
temporários de comércio como a de Champanhe
na
França. Esse comércio possibilitou o retorno da circulação de
moedas, a entrada das letras de câmbio e das atividades bancárias.
A título de curiosidade, destaco que a Igreja perseguia fortemente
os usurários. A cobrança de juros na Idade Média era condenada. As
ligas comerciais ou hansas
surgiram
no século XII. Eram associações entre várias cidades para o
comércio de longa distância. A Hansa
Teutônica, associação
de mercadores alemães, foi muito influente. Elas foram responsáveis
pela dinamização das cidades, o
renascimento urbano
e dos mercados, prenunciando o desenvolvimento econômico capitalista
nos séculos XV e XVI. Outro
tipo de associação importante foram as guildas
ou
corporações de ofícios que reuniam profissionais, donos de
oficinas artesanais do mesmo ramo como a associação de sapateiros,
por exemplo, para administrar a concorrência entre os membros e
controlar os preços de suas mercadorias. Cada oficina era controlada
por um mestre que pagava a um funcionário, o jornaleiro, e mantinha
aprendizes que recebia apenas alimentação e vestuário.
A
crise do feudalismo e o fim da Idade Média. O sistema social vigente
dificultava o comércio por haver muitas diferentes de feudo para
feudo. Havia, por isso, o interesse da burguesia em instituir um
poder forte e centralizado, ao passo que os reis politicamente também
desejavam fortalecer-se, submetendo a nobreza e limitando a atuação
da Igreja. Assim, a burguesia e os reis passaram a se aliar a partir
do século XI. A centralização do poder permitiu a instituição de
um exército, impostos, moedas e justiça que abrangesse todo o
reino. O exemplo mais significante de formação de uma monarquia
nacional é o da França, a partir de 1328 com a Dinastia
Capetíngia que
superou a autonomia dos senhores feudais e instalou um poder real
forte e centralizado. Destacam-se os reis Filipe Augusto, Luís IX e
Filipe IV.
Do
ano de 1337 a 1453, a França e a Inglaterra,
as duas primeiras monarquias nacionais, envolveram-se num conflito
pela região de Flandres conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Essa
localidade era ligada por laços de vassalagem aos franceses e
economicamente dependia dos ingleses. Durante a primeira fase do
conflito (1337-1422), o exército inglês venceu a maioria das
batalhas e impuseram aos franceses a Paz de Brétigny, pela qual a
Inglaterra ocupava um terço do território francês. Nos anos de
1315 a 1317, a fome assolou a Europa. A população desnutrida
sujeitava-se a todos os tipos de moléstias como a Peste Negra ou
Bubônica que de 1347 a 1350
matou cerca de vinte e cinco milhões de pessoas. Vários
foram os fatores para a fome como: o esgotamento do solo, mudanças
climáticas, transformação das áreas de plantio para criar ovelhas
e despovoamento do campo e das cidades. A
França mesmo
assolada pela fome, a peste e a guerra passava a ter reivindicações
da burguesia parisiense por maior participação nas decisões e no
interior aconteceram as revoltas camponesas ou jacqueries.
A
guerra reiniciou após a assunção de Carlos V no poder da França e
com um exército reunificado a maioria dos territórios ocupados fooi
recuperada, porém a morte do rei levou a uma nova disputa entre os
membros da nobreza: armagnacs
e
borguinhões. Estes
últimos se aliaram aos ingleses. Em 1422, a França de novo estava
dividida. O povo francês continuou a lutar por sua libertação.
Nesse contexto a filha de humildes camponeses, dizendo-se enviada de
Deus, surgiu para derrotar os ingleses. Ela era Joana
D'Arc.
Libertou boa parte da França e conseguiu com que Carlos VII fosse
coroado em Reims, porém em 1430 presa por borguinhões foi entregue
aos ingleses, julgada por tribunal eclesiástico e assassinada na
fogueira. A guerra prosseguiu e em 1453 os ingleses foram expulsos,
consolidando as bases do primeiro Estado nacional e acelerando o
desenvolvimento econômico francês na Idade Moderna.
Esse
período não demonstrou apenas aspectos ruins. As primeiras
universidades como a de Bolonha, Paris e Oxford, por exemplo,
surgiram já nos séculos XII. Artisticamente predominaram os estilos
românico e
gótico nas
construções como as das grandes catedrais que apareceram durante
toda a Idade Média. Na literatura, tivemos as cantigas, poesias e
novelas de cavalaria.
A Idade Média terminou, assim, com o fim do feudalismo, quando os
reis conseguiram aumentar o seu poder, graças ao apoio da burguesia
e iniciou uma série de transformações que dariam origem ao mundo
moderno, conforme aprendemos a conhecer.
Referências:
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das
cavernas ao terceiro milênio
– da formação da Europa medieval
à colonização do continente americano.
2° Ed, São Paulo, Moderna, 2006
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do
Ocidente. 2° Ed, São Paulo, Brasliense, 2001
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Feudalismo: uma
sociedade
religiosa,
guerreira,
e
camponesa.
São Paulo, Moderna, 2012
VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, Scipicione,
1997
Nenhum comentário:
Postar um comentário