Uma Breve História da Informática
Antes de falar do significa do termo cibercultura é
necessário historicizar sobre o surgimento da informática que
transformou as relações humanas. O computador pessoal (Personal
Computer ou PC) foi uma invenção que se transformou ao longo de
décadas de pesquisa por parte de governos e de empresas privadas.
Inicialmente, os computadores foram fabricados para propósitos
militares e científicos. O ENIAC, primeiro computador moderno, usado
pela Marinha dos Estados Unidos desde 1947 era tão grande que exigia
milhares de válvulas, ocupava uma grande sala e fazia muito barulho.
Outro conhecido na época foi o Colossos usado durante o fim da
Segunda Guerra Mundial para desencriptar os códigos alemães graças
aos esforços do matemático Alan Turing e de seus colegas, um dos
fatores que garantiram a vitória dos aliados contra o Eixo.
Nesse período, os primeiros computadores não eram
muito confiáveis, pois demandavam muita energia e superaqueciam, mas
isso foi mudando com a invenção do transistor em 1947 após os
sucessos dos experimentos da física de supercondutores realizados
pela Bell Laboratories. Seus projetistas foram John Bardeen, Walter
Brattain e William Shockley. Esse componente era fabricado a partir
do germânio que depois Gordon Teal substituiu por silício e
denominado de “chip”, nome que rapidamente se popularizou. A
empresa que passou a fabricá-lo com a nova matéria-prima foi a
Texas Instruments em 1954. A miniaturização das peças a partir do
surgimento do circuito integrado, um chip de silício com 2250
transistores miniaturizados, possibilitou o desenvolvimento de
computadores mais potentes e mais baratos, porém isso demorou para
acontecer. O barateamento do chip RAM (memória de acesso randômico)
tornou-se evidente quando a Intel o introduziu no mercado em 1970
graças ao seu fundador Robert Noyce que notou a possibilidade desse
componente estimular a tecnologia digital em detrimento da analógica.
A história do surgimento da memória data por volta de
1940, mas a inserção da memória de núcleo magnético nos
computadores só aconteceu em 1953 graças a Forrester. A primeira
linguagem de programação interna foi inventada pelo engenheiro
alemão Konrad Zuse que a chamou de Plankalku, porém ele foi
esquecido e os inventores mais lembrados foram John Backus que criou
a FORTRAN (Sistema de Tradução de Fórmula) e Bob Taylor e Alan Kay
da Xerox fundada em 1970 que inventaram o mouse.
É curioso que os primeiros
computadores vendidos no mundo ainda em 1950 eram britânicos, porém
suas empresas não prosseguiram com o seu desenvolvimento pela falta
de garantias oferecidas pela escala do
mercado norte-americano. Cabe lembrar que esse era o período mais
tenso da guerra fria, portanto tanto americanos como os soviéticos
priorizaram o desenvolvimento de suas máquinas para realizar
trabalhos em sistemas militares como orientações de sistemas de
mísseis e avançar com os programas espaciais e navais.
Em 1964, o Japão também entrou na
corrida para construir seu computador e com o transistor a Sony
lançou a primeira televisão transistorizada e o walkman, alterando
o modo de ouvir música e influenciando as invenções futuras como o
telefone celular.
O filósofo Pierre Lévy em Cibercultura (1999) abordou
o desenvolvimento do microprocessador, citando a lei de Gordon Moore,
cofundador e presidente da Intel, que afirmou haver um o número de
transistores colocados em um chip dobraria a cada dezoito meses,
aumentando assim a velocidade de processamento de dados e a
capacidade de armazenamento. Quando se tornou possível miniaturizar
os componentes usados na fabricação dos computadores através do
silício e o microchip foi inventado empresas como a Atari, a IBM e a
Apple Macintoch passaram a comercializar os primeiros computadores
pessoais. Foi entre o fim da década de
1970 e início de 1980 que eles se popularizaram. O
autor destacou sucintamente os progressos tecnológicos que
garantiram o surgimento da informática, a presença de seus
componentes em todos os equipamentos eletrônicos automatizados, o
advento da comunicação móvel por celulares etc.
Foi a partir de 1974 e de 75 que
os primeiros computadores pessoais surgiram com os lançamentos
comerciais da Radio Elettronics e da Popular Eletronics, porém os
modelos que se popularizaram foram Apple I e II que tinham capacidade
de realizar várias tarefas. Depois foi a vez da IBM inserir o seu
primeiro computador pessoal no mercado em 1981. Antes de a Microsoft
ser fundada por Bill Gates aos 19 anos de idade, os computadores,
tanto pessoais como profissionais, existentes no ano de 1984, cerca
de meio milhão de máquinas no mundo, eram incompatíveis entre si e
todos rapidamente se tornavam obsoletos. Os
desevolvedores como Bill Gates descobriram
que a chave para aumentar o uso deles e
difundi-los ainda mais eram os programas.
Nesse ano, a IBM encomendou um sistema operacional à recém-fundada
Microsoft e seu fundador viu nisso a chance de enriquecer criando um
programa que pudesse ser usado para controlar as operações da
maioria dos computadores. A Microsoft conseguiu se tornar a maior
empresa do mundo a partir da venda do Windows em todas as partes do
mundo e o “PC” começou a se
socializar. Nesse sentido, não se pode deixar de fora também o Unix
elaborado em 1991 e serviu de base para os sistemas operacionais
conhecidos como Linux, cuja arquitetura é usada também para
controlar outras ferramentas.
Em 1995, a Microsoft lança o
navegador Internet Explorer para competir com o Netscape Navigator,
iniciando assim uma disputa por quem dominaria a navegação pela
Internet moderna que recém havia sido estabelecida. Esses feitos
garantiram a conclusão da estruturação da informática e a
interconexão mundial através do ciberespaço, onde, conforme Lévy
(1999), constituiu-se a inteligência coletiva, graças a
organizações de comunidades virtuais. O próximo item desenvolverá
resumidamente a história da Internet e o conceito de ciberespaço.
Uma Breve História da Internet
William Gibson foi o primeiro
escritor a usar o termo “ciberespaço” em seu romance de ficção
científica Neromancer, um universo cheio de redes digitais que
representava a nova fronteira econômica e cultural e onde aconteciam
as batalhas entre as multicionais. Alguns heróis conseguiam entrar
fisicamente nesse mundo. Os conceitos foram usados na trilogia de
cinema Matrix em 1999, mas ainda nos anos 80 os criadores de mídia
digitais e usuários adotaram o nome. Porém, a história da internet
é mais antiga.
A primeira rede que se pode chamar
de pré-internet foi estabelecida entre 1968-69 com o apoio
financeiro do governo dos Estados Unidos através do Departamento de
Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa (ARPA)
fundado em 1957 como uma resposta ao lançamento do primeiro satélite
Sputnik. Inicialmente,
a Arpanet era uma rede que compartilhava informações entre
universidades e outras instituições de pesquisa. A ideia do
Pentágono era conseguir construir uma rede que pudesse transmitir
informações em segurança, mesmo se toda a infraestrutura de
comunicações fosse destruída por um ataque nuclear. Em 1975 ela
foi renomeada como Darpa e as mensagens de e-mail passaram a ser base
das comunicações. Surgiu nesse período a Fundação Nacional de
Ciências (NFS) que usou uma linguagem familiar para trocas de
informações entre pesquisadores distantes, constituindo a Rede de
Pesquisa da Ciência da Computação (CSNET). Em 1985 a Darpa foi
ligada a essa rede. Faltava a
infraestrutura comercial nos Estados Unidos, a qual a NSF não se
interessava e não tinha condições de
financiar. Cogitava-se ainda no final de
1970 de estender a rede para o mundo todo.
Nessa década, enquanto as mensagens de e-mails circulavam apenas no
meio acadêmico o símbolo @ foi introduzido e em 1986 surgiu a
abreviação “com” para comércio,
“mil” para forças armadas e “ed” para educação.
A maior contribuição para a
criação da Internet não veio dos Estados Unidos, mas de um
laboratório europeu de pesquisas nucleares, o CERN situado na
fronteira da França com a Suíça. Em 1989 Tim Berners-Lee imaginou
a World Wide Web que não teria proprietário e seria livre e
ganhou um grau honorário da Universidade Aberta da Grã-Bretanha que
iniciou o ensino a distância, o qual a nova ferramenta depois de
décadas viria auxiliar. De fato, graças
a ela foi possível o desenvolvimento de hiperlinks, o destaque de
palavras ou símbolos dentro de documentos que servisse para clicar e
manutenção da rede aberta sempre, conforme explicaram Asa Briggs e
Peter Burke (2004). Os sites
proliferaram-se com a invenção e o acesso foi simplificado.
Novas Tendências Culturais e
Educacionais
Com as tecnologias digitais da
informação, a novas tendências culturais e estilos artísticos
surgiram. O filósofo francês Pierre
Lévy discutiu
sobre a arte produzida pela cibercultura que
surgiu a partir de 1980. Ele disse que
com o surgimento da digitalização um novo estilo musical surgiu, a
música eletrônica. Ele a define
e explica como se faz a sua produção. A mixagem e o sampling são
os processos usados. Normalmente, pega-se uma música já pronta e
substitui-se os sons produzidos pelos instrumentos musicais por
eletrônicos, produzidos por computador, limitando a originalidade e
a criatividade, pois não se está criando música nova, mas
transformando a atual. O autor destacou que as mudanças nos estilos
musicais aconteceram, conforme novas técnicas foram surgindo. Isso
ficou evidente com as gravações eletrônicas que permitiu a
dublagem por muitos intérpretes.
O filósofo falou do autor como
peça importante para dar sentido à obra ao concluí-la.
Juridicamente, a questão da propriedade da obra virtual é um
problema ainda sem consenso a ser solucionado pelo Estado, pois a
jurisdição depende do local onde se encontra o servidor. Aqui cabe
destacar que a obra virtual pode ser um acontecimento, uma imagem e
sua construção continua indefinidamente, porém a originalidade
torna-se questionável.
A rede tornou-se um espaço livre
de comunicação. Pensando no Direito, ela poderia ser considerada,
metaforicamente, uma “terra sem lei”, onde tudo pode porque não
haverá punição. Lévy citou Bill Gates que afirmou na
possibilidade de o ciberespaço virar um grande mercado planetário e
conjecturou no surgimento do verdadeiro liberalismo. Hoje, após a
concretização dessas previsões, sabe-se que os dados estando num
servidor nacional a legislação vigente no país pode ser aplicada.
O filósofo
também descreveu
sobre as novas formas de educação surgidas após o advento da
virtualidade. A Educação Aberta à Distância (EAD). A questão é
a qualidade do saber nessa modalidade de ensino. Usar somente os
meios informáticos de pesquisa e ensino, sem aulas presenciais,
garantiria a formação de futuros bons profissionais? Nos últimos
anos, aqui no Brasil, tem se visto a proliferação de cursos EAD,
pois são mais baratos e a universidade não precisa investir em uma
grande infraestrutura cara, garantindo mensalidades mais baratas.
Ele também respondeu às
indagações sobre a substituição do velho pelo novo. Existe o medo
de que a ascensão da comunicação pelo ciberespaço substitua o
contato humano direto. Lévy afirmou categoricamente que isso não
acontecerá. Como ocorreu durante todo o desenvolvimento tecnológico
de larga escala, novas formas de pensar e interagir surgiram, mas as
pessoas nunca deixaram de se encontrar por isso. Afirmou também que
as viagens aumentaram ainda mais. Observando algumas pessoas mais
jovens, pode-se hipotetizar que muitos contatos ficaram mais
superficiais, por causa das comunicações instantâneas e das redes
sociais, mas a explicação disso talvez se encontre nos excessos
deles que causem danos às sinapses do cérebro.
Conclusão
A internet, assim como o primeiro
computador digital surgiu de uma decisão militar dos governos dos
Estados Unidos e da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial,
visando combater a Alemanha de Hitler e posteriormente a União
Soviética.
Os computadores e a Internet
certamente aumentaram nossa capacidade de ação e de comunicação,
facilitaram as pesquisas com provedores como o Google, tornaram
possível conhecer novas pessoas e fazer novas aprendizagens, mas
reduziram a autonomia individual, permitiram maior dependência
tecnológica, sacrificaram os modos de pensamento que requeriam
reflexão, introspecção e contemplação capazes de sustentar a
criatividade, conforme entrevista de Nicholas Carr à Revista Galileu
em 27 de outubro de 2010, ademais fazendo uma reflexão pessoal,
deixaram muitas pessoas mais preguiçosas. Pensando nisso, pode-se
concluir que essas ferramentas são uma faca de dois gumes.
Referências:
BRIGSS, Asa; BURKE, Peter. Uma
História Social da Mídia: De Gutenberg à Internet, Rio de
janeiro, Jorge Zahar Editor, 2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura,
São Paulo / SP, Editora 34, 1999.
LÉVY, Pierre. O Que É
Virtual, São Paulo / SP, Editora 34, 1996.