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sábado, 20 de julho de 2013

Uma Breve História do Computador e da Internet

Uma Breve História da Informática
Antes de falar do significa do termo cibercultura é necessário historicizar sobre o surgimento da informática que transformou as relações humanas. O computador pessoal (Personal Computer ou PC) foi uma invenção que se transformou ao longo de décadas de pesquisa por parte de governos e de empresas privadas. Inicialmente, os computadores foram fabricados para propósitos militares e científicos. O ENIAC, primeiro computador moderno, usado pela Marinha dos Estados Unidos desde 1947 era tão grande que exigia milhares de válvulas, ocupava uma grande sala e fazia muito barulho. Outro conhecido na época foi o Colossos usado durante o fim da Segunda Guerra Mundial para desencriptar os códigos alemães graças aos esforços do matemático Alan Turing e de seus colegas, um dos fatores que garantiram a vitória dos aliados contra o Eixo.
Nesse período, os primeiros computadores não eram muito confiáveis, pois demandavam muita energia e superaqueciam, mas isso foi mudando com a invenção do transistor em 1947 após os sucessos dos experimentos da física de supercondutores realizados pela Bell Laboratories. Seus projetistas foram John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley. Esse componente era fabricado a partir do germânio que depois Gordon Teal substituiu por silício e denominado de “chip”, nome que rapidamente se popularizou. A empresa que passou a fabricá-lo com a nova matéria-prima foi a Texas Instruments em 1954. A miniaturização das peças a partir do surgimento do circuito integrado, um chip de silício com 2250 transistores miniaturizados, possibilitou o desenvolvimento de computadores mais potentes e mais baratos, porém isso demorou para acontecer. O barateamento do chip RAM (memória de acesso randômico) tornou-se evidente quando a Intel o introduziu no mercado em 1970 graças ao seu fundador Robert Noyce que notou a possibilidade desse componente estimular a tecnologia digital em detrimento da analógica.
A história do surgimento da memória data por volta de 1940, mas a inserção da memória de núcleo magnético nos computadores só aconteceu em 1953 graças a Forrester. A primeira linguagem de programação interna foi inventada pelo engenheiro alemão Konrad Zuse que a chamou de Plankalku, porém ele foi esquecido e os inventores mais lembrados foram John Backus que criou a FORTRAN (Sistema de Tradução de Fórmula) e Bob Taylor e Alan Kay da Xerox fundada em 1970 que inventaram o mouse.
É curioso que os primeiros computadores vendidos no mundo ainda em 1950 eram britânicos, porém suas empresas não prosseguiram com o seu desenvolvimento pela falta de garantias oferecidas pela escala do mercado norte-americano. Cabe lembrar que esse era o período mais tenso da guerra fria, portanto tanto americanos como os soviéticos priorizaram o desenvolvimento de suas máquinas para realizar trabalhos em sistemas militares como orientações de sistemas de mísseis e avançar com os programas espaciais e navais. Em 1964, o Japão também entrou na corrida para construir seu computador e com o transistor a Sony lançou a primeira televisão transistorizada e o walkman, alterando o modo de ouvir música e influenciando as invenções futuras como o telefone celular.
O filósofo Pierre Lévy em Cibercultura (1999) abordou o desenvolvimento do microprocessador, citando a lei de Gordon Moore, cofundador e presidente da Intel, que afirmou haver um o número de transistores colocados em um chip dobraria a cada dezoito meses, aumentando assim a velocidade de processamento de dados e a capacidade de armazenamento. Quando se tornou possível miniaturizar os componentes usados na fabricação dos computadores através do silício e o microchip foi inventado empresas como a Atari, a IBM e a Apple Macintoch passaram a comercializar os primeiros computadores pessoais. Foi entre o fim da década de 1970 e início de 1980 que eles se popularizaram. O autor destacou sucintamente os progressos tecnológicos que garantiram o surgimento da informática, a presença de seus componentes em todos os equipamentos eletrônicos automatizados, o advento da comunicação móvel por celulares etc.
Foi a partir de 1974 e de 75 que os primeiros computadores pessoais surgiram com os lançamentos comerciais da Radio Elettronics e da Popular Eletronics, porém os modelos que se popularizaram foram Apple I e II que tinham capacidade de realizar várias tarefas. Depois foi a vez da IBM inserir o seu primeiro computador pessoal no mercado em 1981. Antes de a Microsoft ser fundada por Bill Gates aos 19 anos de idade, os computadores, tanto pessoais como profissionais, existentes no ano de 1984, cerca de meio milhão de máquinas no mundo, eram incompatíveis entre si e todos rapidamente se tornavam obsoletos. Os desevolvedores como Bill Gates descobriram que a chave para aumentar o uso deles e difundi-los ainda mais eram os programas. Nesse ano, a IBM encomendou um sistema operacional à recém-fundada Microsoft e seu fundador viu nisso a chance de enriquecer criando um programa que pudesse ser usado para controlar as operações da maioria dos computadores. A Microsoft conseguiu se tornar a maior empresa do mundo a partir da venda do Windows em todas as partes do mundo e o “PC” começou a se socializar. Nesse sentido, não se pode deixar de fora também o Unix elaborado em 1991 e serviu de base para os sistemas operacionais conhecidos como Linux, cuja arquitetura é usada também para controlar outras ferramentas.
Em 1995, a Microsoft lança o navegador Internet Explorer para competir com o Netscape Navigator, iniciando assim uma disputa por quem dominaria a navegação pela Internet moderna que recém havia sido estabelecida. Esses feitos garantiram a conclusão da estruturação da informática e a interconexão mundial através do ciberespaço, onde, conforme Lévy (1999), constituiu-se a inteligência coletiva, graças a organizações de comunidades virtuais. O próximo item desenvolverá resumidamente a história da Internet e o conceito de ciberespaço.
Uma Breve História da Internet
William Gibson foi o primeiro escritor a usar o termo “ciberespaço” em seu romance de ficção científica Neromancer, um universo cheio de redes digitais que representava a nova fronteira econômica e cultural e onde aconteciam as batalhas entre as multicionais. Alguns heróis conseguiam entrar fisicamente nesse mundo. Os conceitos foram usados na trilogia de cinema Matrix em 1999, mas ainda nos anos 80 os criadores de mídia digitais e usuários adotaram o nome. Porém, a história da internet é mais antiga.
A primeira rede que se pode chamar de pré-internet foi estabelecida entre 1968-69 com o apoio financeiro do governo dos Estados Unidos através do Departamento de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa (ARPA) fundado em 1957 como uma resposta ao lançamento do primeiro satélite Sputnik. Inicialmente, a Arpanet era uma rede que compartilhava informações entre universidades e outras instituições de pesquisa. A ideia do Pentágono era conseguir construir uma rede que pudesse transmitir informações em segurança, mesmo se toda a infraestrutura de comunicações fosse destruída por um ataque nuclear. Em 1975 ela foi renomeada como Darpa e as mensagens de e-mail passaram a ser base das comunicações. Surgiu nesse período a Fundação Nacional de Ciências (NFS) que usou uma linguagem familiar para trocas de informações entre pesquisadores distantes, constituindo a Rede de Pesquisa da Ciência da Computação (CSNET). Em 1985 a Darpa foi ligada a essa rede. Faltava a infraestrutura comercial nos Estados Unidos, a qual a NSF não se interessava e não tinha condições de financiar. Cogitava-se ainda no final de 1970 de estender a rede para o mundo todo. Nessa década, enquanto as mensagens de e-mails circulavam apenas no meio acadêmico o símbolo @ foi introduzido e em 1986 surgiu a abreviação “com” para comércio, “mil” para forças armadas e “ed” para educação.
A maior contribuição para a criação da Internet não veio dos Estados Unidos, mas de um laboratório europeu de pesquisas nucleares, o CERN situado na fronteira da França com a Suíça. Em 1989 Tim Berners-Lee imaginou a World Wide Web que não teria proprietário e seria livre e ganhou um grau honorário da Universidade Aberta da Grã-Bretanha que iniciou o ensino a distância, o qual a nova ferramenta depois de décadas viria auxiliar. De fato, graças a ela foi possível o desenvolvimento de hiperlinks, o destaque de palavras ou símbolos dentro de documentos que servisse para clicar e manutenção da rede aberta sempre, conforme explicaram Asa Briggs e Peter Burke (2004). Os sites proliferaram-se com a invenção e o acesso foi simplificado.

Novas Tendências Culturais e Educacionais
Com as tecnologias digitais da informação, a novas tendências culturais e estilos artísticos surgiram. O filósofo francês Pierre Lévy discutiu sobre a arte produzida pela cibercultura que surgiu a partir de 1980. Ele disse que com o surgimento da digitalização um novo estilo musical surgiu, a música eletrônica. Ele a define e explica como se faz a sua produção. A mixagem e o sampling são os processos usados. Normalmente, pega-se uma música já pronta e substitui-se os sons produzidos pelos instrumentos musicais por eletrônicos, produzidos por computador, limitando a originalidade e a criatividade, pois não se está criando música nova, mas transformando a atual. O autor destacou que as mudanças nos estilos musicais aconteceram, conforme novas técnicas foram surgindo. Isso ficou evidente com as gravações eletrônicas que permitiu a dublagem por muitos intérpretes.
O filósofo falou do autor como peça importante para dar sentido à obra ao concluí-la. Juridicamente, a questão da propriedade da obra virtual é um problema ainda sem consenso a ser solucionado pelo Estado, pois a jurisdição depende do local onde se encontra o servidor. Aqui cabe destacar que a obra virtual pode ser um acontecimento, uma imagem e sua construção continua indefinidamente, porém a originalidade torna-se questionável.
A rede tornou-se um espaço livre de comunicação. Pensando no Direito, ela poderia ser considerada, metaforicamente, uma “terra sem lei”, onde tudo pode porque não haverá punição. Lévy citou Bill Gates que afirmou na possibilidade de o ciberespaço virar um grande mercado planetário e conjecturou no surgimento do verdadeiro liberalismo. Hoje, após a concretização dessas previsões, sabe-se que os dados estando num servidor nacional a legislação vigente no país pode ser aplicada.
O filósofo também descreveu sobre as novas formas de educação surgidas após o advento da virtualidade. A Educação Aberta à Distância (EAD). A questão é a qualidade do saber nessa modalidade de ensino. Usar somente os meios informáticos de pesquisa e ensino, sem aulas presenciais, garantiria a formação de futuros bons profissionais? Nos últimos anos, aqui no Brasil, tem se visto a proliferação de cursos EAD, pois são mais baratos e a universidade não precisa investir em uma grande infraestrutura cara, garantindo mensalidades mais baratas.
Ele também respondeu às indagações sobre a substituição do velho pelo novo. Existe o medo de que a ascensão da comunicação pelo ciberespaço substitua o contato humano direto. Lévy afirmou categoricamente que isso não acontecerá. Como ocorreu durante todo o desenvolvimento tecnológico de larga escala, novas formas de pensar e interagir surgiram, mas as pessoas nunca deixaram de se encontrar por isso. Afirmou também que as viagens aumentaram ainda mais. Observando algumas pessoas mais jovens, pode-se hipotetizar que muitos contatos ficaram mais superficiais, por causa das comunicações instantâneas e das redes sociais, mas a explicação disso talvez se encontre nos excessos deles que causem danos às sinapses do cérebro.
Conclusão
A internet, assim como o primeiro computador digital surgiu de uma decisão militar dos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial, visando combater a Alemanha de Hitler e posteriormente a União Soviética.
Os computadores e a Internet certamente aumentaram nossa capacidade de ação e de comunicação, facilitaram as pesquisas com provedores como o Google, tornaram possível conhecer novas pessoas e fazer novas aprendizagens, mas reduziram a autonomia individual, permitiram maior dependência tecnológica, sacrificaram os modos de pensamento que requeriam reflexão, introspecção e contemplação capazes de sustentar a criatividade, conforme entrevista de Nicholas Carr à Revista Galileu em 27 de outubro de 2010, ademais fazendo uma reflexão pessoal, deixaram muitas pessoas mais preguiçosas. Pensando nisso, pode-se concluir que essas ferramentas são uma faca de dois gumes.


Referências:
BRIGSS, Asa; BURKE, Peter. Uma História Social da Mídia: De Gutenberg à Internet, Rio de janeiro, Jorge Zahar Editor, 2004.

LÉVY, Pierre. Cibercultura, São Paulo / SP, Editora 34, 1999.

LÉVY, Pierre. O Que É Virtual, São Paulo / SP, Editora 34, 1996.



domingo, 9 de junho de 2013

O Sermão de uma Amiga

Escrevi por motivos pessoais, para refletir um acontecimento pessoal e divido-o com vocês. Imaginei uma conversa com uma nova amiga. A ela dedico e a quem eu me desentendi também. 

O Sermão de uma Amiga

Já não havia mais felicidade nos olhos dele. Sentia-se cansado, desiludido e por um motivo considerado fútil para a maioria das pessoas mais próximas e íntimas. No sofá, com o chimarrão a uma mão e um caderno colocado à direita, ele lançou um olhar sem graça para fora da janela de sua casa. O barulho, ou melhor, rugido do trem vindo e desacelerando antes de chegar à pontezinha fez o jovem rapaz sair de seu devaneio, de sua fuga para evitar pensar na realidade re em que o perturbava fazia meses. Sua nova amiga, que o havia socorrido naquele dia infeliz perguntou com uma voz doce e demonstrando preocupação:
-O que houve? Tu ainda estás pensando nela?
-Sim, e fiz analogias. -Respondeu melancolicamente ele.
Baixou sua cabeça e pensou que aquele seria o momento de contar uma história não contada e quiçá refletir sobre si mesmo. A garota, dezenove anos, ajudá-lo-ia a fazer isso. Naquele instante, o vento soprou pela janela e uma mecha dos longos e brilhantes cabelos loiros dela caiu sobre seus olhos. Ele sorriu. Achou graça quando ela os afastou e ficou encabulada com aquele olhar repentino.
-O que foi?!
Houve constrangimento. Ela era linda, principalmente quando surgia a imagem de a garota estar acariciando um gatinho de estimação sobre a barriga dela. Fazer o quê? Porém, ele afastou os pensamentos íntimos de sua mente e passou a cuia a ela. Lá fora, os vagões continuavam a passar, o que lhe fez lembrar do título de sua cidade: “Princesa das Pontes” e da inutilidade daquela ferrovia ao município.
-Tu vais me dar outro sermão?
-De fato. Ela já lhe falou sobre a “opção sexual” dela e tu tens de entender a necessidade do afastamento. Tu a cansaste, talvez ela te odeie e sinta aversão, mas e daí? Todos passam por desilusões amorosas e a única coisa que aquela menina havia te garantido era a amizade, mas cobraste demais, demonstraste egocentrismo, possessividade, roubaste o espaço dela e falhaste no respeito. Ela te deu algo bom, sem exigir nada e fizeste o oposto. Isso odiável, mas servirá como uma escola, a qual precisas inserir-te.,
As últimas palavras pareceram consoladoras, mas não aliviava a sensação de perda e de que jamais voltaria a se apaixonar. Tinha surgido um novo temor. Se novamente sentisse o mesmo por outra menina e ela não recebesse bem seus sentimentos. Lembrou-se vagamente de uma das aulas de uma disciplina da graduação quando estudou sobre Freud e num debate tornou-se consciente da existência de um padrão inconsciente que orienta a atração. Era o que queria contar, relacionando com uma paixão boba de escola. Preferiu não contar e escutar o último conselho.
-Buscar apoio psicológico e psiquiátrico te fará bem, mas melhor ainda é que tu comeces a sair, continue a ler teus livros, beba e escreva. Diários ajudam. Ah, e se voltar a falar dela, você apanha!
Ele sorriu. O mate que a garota bebia não tinha mais espuma, nem vapor, porém o gosto amargo e suave continuava. Ao devolver, ela lançou um sorriso cômico. Talvez nunca cumprisse a ameaça, mas seria melhor não esperar para ver. O assunto, assim, foi concluído. O trem distanciava-se e escutava-se um barulho que gradualmente diminuía. Pelo bairro, paralelo à ferrovia, os pássaros voando, pousados sobre os postes e perambulando sem permissão pelos telhados cantavam alegremente.

Autor: Itacir José Santim


domingo, 2 de junho de 2013

Breve História da Idade Média

Saindo da literatura para História
Breve História da Idade Média
Clique caso você deseje baixar este texto em PDF pelo Recanto das Letras
Autor: Itacir José Santim
O objetivo desse artigo é esboçar um resumo sobre Idade Média que pode ser usado em sala de aula. A fase denominada de Idade Média iniciou com a ruína do Império Romano no de 476 e teve como características básicas: a predominância do feudalismo que foi uma estrutura econômica, social, política e cultural que surgiu na Europa em substituição à estrutura escravista da Antiguidade romana. Com a ruína de Roma e o fim do escravismo, a população abandonou a cidade e procurou sobrevivência no campo. As invasões dos povos bárbaros, principalmente os germânicos, ajudaram a acelerar a queda do Império Romano Ocidental, a ruralização e a implantação do feudalismo. Durante esse período, outros povos também ocuparam partes da Europa, como os árabes no Mediterrâneo durante século VIII, impossibilitando as ligações comerciais entre o ocidente e o oriente. No século IX, ainda aconteceram as invasões normandas e magiares. Sobre o seu fim, vários historiadores consideram diferentes acontecimentos e épocas para a periodização. Alguns afirmam que ela terminou com a queda de Constantinopla em 1453, outros com a descoberta da América em 1492 e ainda o ano de 1800, por causa da Revolução Industrial.
Anteriormente, também foi mencionado que a base de toda a economia da Idade Média era agrária e de subsistência. A propriedade feudal pertencia a uma camada privilegiada, sendo o feudo a principal unidade econômica. Ele se dividia em três partes: manso senhorial ou domínio, manso comunal e manso servil. Devido às obrigações (talha, corveia etc) que os servos tinham, eles não se sentiam estimulados a aumentar a produção. A principal técnica usada foi a rotatividade ou agricultura de três campos. Caracteristicamente, a sociedade apresentou-se segmentada em estamentos fixos. Nobreza, o clero e servos. Haviam os vilões que tinham menos deveres e mais liberdade. A escravidão foi rara nessa época. Os nobres que cediam as terras eram os suseranos e os que recebiam se tornavam vassalos. Disso surgia uma relação recíproca de dependência.
Vimos que durante o fim do Império Romano muitos povos estrangeiros que ocupavam aquelas terras formaram seus próprios reinos e monarquias. O mais destacado foi o reino germânico dos francos que alcançou destaque na Alta Média (séculos IV ao IX) quando se formou o sistema feudal exatamente nesse local, onde hoje corresponde à França e Alemanha. Esse reino ficou conhecido como o Império Carolíngio e em 800 Carlos Magno foi coroado imperador, apoiado pelo Papa Leão III que desejava expandir o Catolicismo. Durante a dinastia carolíngia o Império atingiu grandes extensões, o que gerou dificuldades para administração que foram solucionadas com o contrato de fidelidade. Disso surgiu o costume de vassalagem e suserania, porém isso enfraquecia o poder real. Vejamos alguns trechos do livro Feudalismo: uma sociedade religiosa, guerreira, e camponesa:
Hilário Franco Júnior afirma que “os reis merovíngios remuneravam seus servidores entregando a cada um deles uma extensão de terra a título de beneficium em troca de determinados benefícios prestados. Tal concessão era vitalícia, mas, como quase sempre era renovada em favor do herdeiro do concessionário falecido,...” (JÚNIOR, Hilário Franco, 20012, p.12).
  
Muitas vezes o detentor do benefício recebia um importante privilégio, que esvaziava ainda mais poder monárquico: a imunidade (immunitas). Por causa dela, determinados territórios ficavam livres da presença de funcionários reais,... Assim, o tornava-se detentor de poderes de pobres regalianos (isto é, inerentes ao rei), o que lhes permitia nos seus domínios exercer funções administrativas, aplicar justiça, realizar recrutamento militar, cobrar impostos e multas. (...) (FRANCO JÚNIOR, Hilário, 2012 p.12).

Os reis perdiam de seu poder de nomear e destituir seus representantes provinciais (duques, marqueses, condes), cujos cargos tornavam-se bens pessoais ou hereditários. (...)” (FRANCO JÚNIOR, Hilário, 2012 p.13).
Carlos Magno morreu no ano de 814, iniciando à fragmentação do Império com a partilha entre seus filhos. Com a morte repentina de dois dos herdeiros, Pepino e Carlos, Luís tornou-se o único governante e preferiu dividir o Império entre seus três filhos, porém um quarto filho nasceu e ele decidiu fazer uma nova repartição, gerando revolta contra o pai. Em 843, assinado o Tratado de Verdún as disputas terminaram.
As invasões dos Vikings, Muçulmanos e Húngaros aconteceram por ter diminuído o poder central e aumentado a autonomia dos feudos. O islamismo, então, passou a dominar o Oriente, a África do Norte, a Península Ibérica, partes do sul italiano e ilhas do mediterrâneo. Até o ano de 1453 onde atualmente é a Turquia continuou existindo o Império Romano do Oriente ou Bizantino, cuja capital era Constantinopla, atual Istambul. Nas ilhas britânicas formaram-se os Reinos Anglo Saxônicos.
Nessa época, a Igreja cristã tornou-se a mais poderosa instituição feudal do ocidente europeu. Acreditava-se que o clero cristão tinha sido escolhido, instruído e investido de poderes pela Divindade. Cristo escolheu os discípulos, primeiros bispos e estes outros. Ela se considerava a herdeira do Império Romano, formava uma sociedade autônoma e organização de leis, além de ter um grande poderio econômico. Firmou aos poucos uma mentalidade simbólica que via no mundo um grande enigma decifrável somente pela fé. O mundo ganhou sentido intermediado por Deus e a razão passou a ser vista como instrumento diabólico que afastava o homem da verdade. Todavia, o lado mais negro da Igreja Católica também surgiu nesse período com a criação da Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício no século XII para perseguir aqueles que contrariavam a fé cristã.
O período conhecido como Baixa Idade Média (séculos X a XV) foi marcado por grandes transformações na sociedade. Houve um crescimento populacional razoável que era barrado pelo modo feudal de produção e exigiu melhorias das técnicas agrícolas, porém mesmo com elas não havia estímulo ao servo produzir mais, devido às tributações. Nessa época, as Cruzadas convocadas pelo Papa Urbano II em 1095 começaram, terminando em 1270. Elas possibilitaram o Renascimento Comercial, beneficiando principalmente as cidades italianas de Gênova e Veneza, estimularam inovações na construção naval, estabeleceram novas rotas comerciais e os produtos orientais aumentaram as possibilidades de enriquecimento. Os contatos por rotas terrestres e fluviais entre o norte e sul do continente europeu intensificaram-se. Surgiram as feiras, locais temporários de comércio como a de Champanhe na França. Esse comércio possibilitou o retorno da circulação de moedas, a entrada das letras de câmbio e das atividades bancárias. A título de curiosidade, destaco que a Igreja perseguia fortemente os usurários. A cobrança de juros na Idade Média era condenada. As ligas comerciais ou hansas surgiram no século XII. Eram associações entre várias cidades para o comércio de longa distância. A Hansa Teutônica, associação de mercadores alemães, foi muito influente. Elas foram responsáveis pela dinamização das cidades, o renascimento urbano e dos mercados, prenunciando o desenvolvimento econômico capitalista nos séculos XV e XVI. Outro tipo de associação importante foram as guildas ou corporações de ofícios que reuniam profissionais, donos de oficinas artesanais do mesmo ramo como a associação de sapateiros, por exemplo, para administrar a concorrência entre os membros e controlar os preços de suas mercadorias. Cada oficina era controlada por um mestre que pagava a um funcionário, o jornaleiro, e mantinha aprendizes que recebia apenas alimentação e vestuário.
A crise do feudalismo e o fim da Idade Média. O sistema social vigente dificultava o comércio por haver muitas diferentes de feudo para feudo. Havia, por isso, o interesse da burguesia em instituir um poder forte e centralizado, ao passo que os reis politicamente também desejavam fortalecer-se, submetendo a nobreza e limitando a atuação da Igreja. Assim, a burguesia e os reis passaram a se aliar a partir do século XI. A centralização do poder permitiu a instituição de um exército, impostos, moedas e justiça que abrangesse todo o reino. O exemplo mais significante de formação de uma monarquia nacional é o da França, a partir de 1328 com a Dinastia Capetíngia que superou a autonomia dos senhores feudais e instalou um poder real forte e centralizado. Destacam-se os reis Filipe Augusto, Luís IX e Filipe IV.
Do ano de 1337 a 1453, a França e a Inglaterra, as duas primeiras monarquias nacionais, envolveram-se num conflito pela região de Flandres conhecido como a Guerra dos Cem Anos. Essa localidade era ligada por laços de vassalagem aos franceses e economicamente dependia dos ingleses. Durante a primeira fase do conflito (1337-1422), o exército inglês venceu a maioria das batalhas e impuseram aos franceses a Paz de Brétigny, pela qual a Inglaterra ocupava um terço do território francês. Nos anos de 1315 a 1317, a fome assolou a Europa. A população desnutrida sujeitava-se a todos os tipos de moléstias como a Peste Negra ou Bubônica que de 1347 a 1350 matou cerca de vinte e cinco milhões de pessoas. Vários foram os fatores para a fome como: o esgotamento do solo, mudanças climáticas, transformação das áreas de plantio para criar ovelhas e despovoamento do campo e das cidades. A França mesmo assolada pela fome, a peste e a guerra passava a ter reivindicações da burguesia parisiense por maior participação nas decisões e no interior aconteceram as revoltas camponesas ou jacqueries. A guerra reiniciou após a assunção de Carlos V no poder da França e com um exército reunificado a maioria dos territórios ocupados fooi recuperada, porém a morte do rei levou a uma nova disputa entre os membros da nobreza: armagnacs e borguinhões. Estes últimos se aliaram aos ingleses. Em 1422, a França de novo estava dividida. O povo francês continuou a lutar por sua libertação. Nesse contexto a filha de humildes camponeses, dizendo-se enviada de Deus, surgiu para derrotar os ingleses. Ela era Joana D'Arc. Libertou boa parte da França e conseguiu com que Carlos VII fosse coroado em Reims, porém em 1430 presa por borguinhões foi entregue aos ingleses, julgada por tribunal eclesiástico e assassinada na fogueira. A guerra prosseguiu e em 1453 os ingleses foram expulsos, consolidando as bases do primeiro Estado nacional e acelerando o desenvolvimento econômico francês na Idade Moderna.
Esse período não demonstrou apenas aspectos ruins. As primeiras universidades como a de Bolonha, Paris e Oxford, por exemplo, surgiram já nos séculos XII. Artisticamente predominaram os estilos românico e gótico nas construções como as das grandes catedrais que apareceram durante toda a Idade Média. Na literatura, tivemos as cantigas, poesias e novelas de cavalaria.
A Idade Média terminou, assim, com o fim do feudalismo, quando os reis conseguiram aumentar o seu poder, graças ao apoio da burguesia e iniciou uma série de transformações que dariam origem ao mundo moderno, conforme aprendemos a conhecer.

Referências:
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio – da formação da Europa medieval à colonização do continente americano. 2° Ed, São Paulo, Moderna, 2006

FRANCO  JÚNIOR, Hilário.  A Idade Média: nascimento do Ocidente. 2° Ed, São Paulo, Brasliense, 2001

FRANCO JÚNIOR, Hilário. Feudalismo: uma sociedade religiosa, guerreira, e camponesa. São Paulo, Moderna, 2012

VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, Scipicione, 1997





quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Missão nas Estrelas II - A Viagem da Espaçonave Horizontes (Capítulo I - IV)



Capítulo I

Em algum lugar muito distante na nossa galáxia, numa época conhecida na História como o Período Negro de um Sistema Solar confinado pela maldade de alguns de seus habitantes. Nele, a vida humana tinha surgido há trezentos milhões de anos, juntamente com outras espécies que igualmente atingiram a civilização. Dali, parte nossos personagens.

Ano: 2585. Cidade das Estrelas. Órbita do terceiro Planeta. Dérlans.

O transporte espacial conduzindo o Almirante Ender Shin da superfície do planeta entrava na área orbital da maior metrópole fora da atmosfera já construída.
-Almirante, estamos nos aproximando da colônia. -Comunicou o Sr. Tetra.
-Já faz um bom tempo que eu não venho mais aqui. Contato?
-Positivo, Almirante e já temos permissão para atracagem. Depois, embarcaremos em outro transporte para a área de ancoragem da Armada.
-Ninguém pensa que eu resolvi depois de tanto tempo voltar à ativa.
-É verdade, Senhor.
Um leve solavanco confirmou o engate da nave em uma das câmaras de vácuo.
-Nós chegamos.
 
Ao leitor e a quem não me conhece ainda, sou o Almirante da Armada Espacial e ex-combatente da grande guerra contra os escorpianos Altabar Ender W Shin.
-Acompanhe-me, Senhor.
De um alto falante, escutou-se uma voz feminina e metálica:
-Atenção. Último transporte para a superfície partindo em quinze minutos. Última chamada para o transporte à Terceira Lua.
-Lá está o nosso transporte. -Apontou o Sr. Tetra. -Vamos embarcar.
-Gimm. -A escotilha abriu.
-Controle, aqui é o Transporte 2852 solicitando permissão para desatracar.
-2852 permissão concedida.
Os propulsores acenderam, a nave rapidamente deixou o ambiente interno do porto espacial e colocou-se nas vias entre os prédios orbitais interligados por longas tubulações que serviam de caminhos para veículos internos e pedestres.


-Capitão, nós vamos ter de diminuir a velocidade., pois temos um cargueiro em nossa frente.
-Passe por baixo, eu vejo a saída. -Respondeu o Almirante que voltava a capitanear uma nave.
-Giamm!
Raspando, a pequena nave espacial passou sob o cargueiro e ambos continuaram seus rumos ininterruptos.


Depois das duas grandes guerras, a contra Iscorpi e depois a invasão de Zark, o Terceiro Planeta começou a mudar de forma tecnológica e econômica. A legislação sobre a imigração extraplanetária depois da invasão de arienianos que não conseguiram deixa r o sistema solar tornou-se mais rígida, porém eles tiveram de ser tolerados por questão de solidariedade.
-Almirante, estamos nos aproximando do Cruzador Horizontes.
-Estamos atrasados.
-No horário. Aqui é o Capitão Tetra para nave Horizontes. Solicito permissão para atracar.
-Aqui Horizontes. Solicitação concedida. Desacelerem e prepare-se para transferir o controle da nave para nossa torre.
Um minuto depois, a pequena nave de asas entrava no hangar sob o controle dos controladores de tráfego da Horizontes e baixava seus trens de pouso. Enquanto isso, a nave Horizontes acelerava a fim de deixar a órbita do planeta. As luas planetárias pareciam próximas umas das outras e o sol surgiu entre elas.


II
A escotilha do hangar fechou e ele foi repressurizado. De pé, perto do transporte estava o Primeiro Oficial Sr. Thirty à espera de seu antigo Capitão.

-Almirante, é uma honra revê-lo.

-Estou aqui como Capitão para reassumir o comando da nave.

-É uma excelente notícia, Sr!

-Os motores já foram carregados para o nosso salto interestelar?

-Carreguei-os antes de ir buscá-lo, mas preciso realizar um teste antes. -Respondeu o Sr. Tetra.

-Quero que a nave acelere até a velocidade da luz, imediatamente.

O mais rápido que as naves estelares do Terceiro Planeta conseguiam chegar eram os 300 000 Km/s que a luz percorre no vácuo. O Cruzador Horizontes havia sido a primeira nave estelar construída pela civilização derlaniana para atingir as estrelas sem depender do apoio de terceiros. Quando ela converge ao hiperespaço sua velocidade aumenta incrivelmente. Para missões de exploração em outros planetas, grandes naves de serviço projetadas para voos dentro de atmosferas estão estacionadas no hangar principal. Nessa nova missão, a República Planetária e a Liga Interplanetária decidiram enviar a espaçonave para tentar comprovar a veracidade de uma lenda antiga sobre a formação de um Reino Estelar pela civilização humana que havia colonizado o sistema solar. Infelizmente, Zark também enviou uma expedição e poderá destruir o suposto planeta se chegar antes.

Pelos corredores laterais, enquanto caminhavam até a ponte de comando o agora novamente Capitão Ender Shin e o Comandante Thirty dialogaram sobre quando saltariam ao hiperespaço e estranhas perturbações descobertas ao redor da estrela que eles visitariam.
-Capitão, nós atingiremos a velocidade necessária para o salto em trinta minutos e esperamos que o Sr. Informa nossas novas coordenadas.
- ...
-Há algum problema?
-Não, exatamente. Descobri uma oscilação estranha na estrela Mira que é o nosso destino e seus quatro planetas. Há rumores vindos dos planetas de Zark que lá existe um mundo com uma civilização técnica desenvolvendo-se, porém os adversários negam-os.
-É uma possibilidade remota, pois nossas sondas nunca revelaram nada, porém Zark sempre mente e seu governo enviou quatro cruzadores estelares para aquele setor.
-Quatro?! Muitas naves grandes para um setor sem ninguém. Estranho.
O Capitão chamou a ponte de comando pelo interfone:
-Ponte?
-Aqui é a ponte.
-Ordens para efetuar o salto.
-Entendido. Iniciando sequência de convergência ao hiperespaço.
A nave tremeu. Ouviu-se o som dos motores e sentiu-se uma grande explosão de energia.
-Giamm! Giiibrrrrrr!


 
Instantes depois na ponte de comando, Ender Shin informava em seu diário o rumo e o destino da espaçonave:
-Traçamos curso para o Sistema Planetário Mira situado no setor de Épsilon Eridani, onde conforme nossas ordens faremos uma busca exoplanetária.
-Estamos conseguindo manter o atalho estável e nossos campos de contenção impedindo o contato da matéria exótica com o casco da nave, mas...
-Problemas, Comandante?
-Monitoramos uma comunicação hiperespacial para um encouraçado de Zark e possivelmente seja a nau do Imperador. Possivelmente, estão realizando manobras...
-Se fosse manobra de treinamento para combate as transmissões estariam sendo realizadas pelo espaço comum e comunicações pelo hiperespaço simuladas por computador. Acho que Zark está vindo em nossa direção ou indo ao mesmo destino, conforme suspeitamos.
O velho Almirante tinha poucas dúvidas sobre essa questão e temia, como qualquer bom comandante, um enfrentamento logo que saltassem ao espaço normal novamente. 

III
 
-Giiibrrrrrr!
Os quatro propulsores do enorme cruzador de Zark novamente expeliam trilhões de toneladas de plasma tão quente quanto o de qualquer estrela amarela. A nave colocava-se numa órbita mais próxima do sol de Mira e, assim, desviava da investida de outra nave, cujos propulsores recentemente haviam sido desligados e seu movimento acelerado era mantido por inércia.
-Cruzador Alfa vamos repetir a manobra.
-Entendido General Kalar e alertamos sobre o risco de colisão com nossa proximidade. -Respondia por rádio o Capitão da outra nave.
-Temos uma comunicação do Imperador. -Informou o Oficial de Comunicações.
-Abra um canal.
-General Kalar.
-Imperador que honra em falar com Vossa Maioria.
-Desde a grande guerra que derrotou a civilização escorpiana e derrubou o escudo que isolava o seu sistema você tem prestado grandes serviços ao Império e agora confio-lhe uma nova missão. Impedir uma nave da Liga de penetrar nesse sistema solar e vasculhar seus planetas. O Senhor já os enfrentou antes e deverá sair vitorioso. A nave enviada é a Horizontes. Um cruzador obsoleto e que suas armas aposentá-lo-ão.
O Imperador lembrava-se que há noventa e cinco anos Zark de certa forma havia sido o maior aliado dos escorpianos, espécie a qual o General pertence e invadido o sistema solar, sede da Liga Interplanetária, a fim de dominar todas as civilizações técnicas e estabelecer um império escorpiano favorável a Zark. Houve, para isso, o apoio de alguns partidários da Monarquia dos “aguilhões”. O projeto fracassou e a ação seguinte de ataque primeiramente ao planeta dos escorpianos não passou de um ato de vingança por esse governo estar apoiando os fugitivos arienianos.
A voz do Imperador era lenta, gélida e grave. Ele pronunciava sílaba por sílaba de cada palavra proferida a fim de ter certeza que seus subordinados compreendessem bem suas ordens antes de implementá-las. Indicava também um formalismo exacerbado.
-Estamos concluindo uma manobra nesse momento.
-Um bom disfarce para esconder o que descobrimos e nossas pretensões.
-Claro. -Encerrou-se a comunicação.
-General a Horizontes acaba de saltar e está desacelerando usando os propulsores convencionais.
-Abrir frequência de comunicações e transferir potência aos propulsores.
Novamente, a grande nave discoide movia-se. O cruzador Horizontes entrava em órbita da estrela Mira, enquanto acertava uma nova trajetória para o terceiro planeta do sistema. Único mundo com algumas condições para suportar vida, porém nenhuma sonda enviada a ele confirmava a lenda de haver uma civilização técnica e capaz de trazer os mundos em guerra de volta à paz.



O alarme informando a aproximação de uma nave hostil sibilou intensa e continuamente por todos os compartimentos. Toda a tripulação rapidamente dirigiu-se para suas devidas estações de trabalho e aguardaram novas instruções. Ender Shin encontrava-se no escritório e seu Imediato estava no comando. Por interfone:
-Ponte para o Capitão.
-Qual o problema Comandante?
-Um cruzador estelar Zark está se aproximando e seu comandante exige nossa mudança de destino e de trajetória.
-Ignore. Mantenha o curso e nossa trajetória atuais.
-Tchiamm! Bumm! Aaaah!
-Tripulação para postos de combate. Tente levantar nossos escudos. Indo para a ponte.
A Horizontes recebeu um duro golpe. O ataque foi repentino, mas o casco conseguiu absorver boa parte da energia. De repente, acontece um segundo.
-Tchiamm! Tchiamm! Bumm! Bumm!
-Escudos de energia perdendo força e mudando fonte para energia de reserva!
O cruzador inimigo aproximava-se e a Horizontes acionava seus quatro propulsores em reversão para se afastar. Ender Shin havia entrado na ponte de comando. Os oficiais estavam nervosos e temerosos. Aquela nave era muito poderosa. Não daria para derrotá-la. Ele, sorridentemente, falou:
-Eu conheço esses cruzadores! Seus propulsores consumem a maior parte da energia dos motores e quando estão acelerando as armas irradiantes tornam-se mais fracas. Armar os quatro emissores principais e esperem aquela nave acelerar. Engenharia acelerem em reverso.
-Mas, Capitão?!
-Confiem em mim.
-Agora! Fogo!
Os propulsores do cruzador Zark expeliram uma grande quantidade de plasma. Ele virou e disparou uma rajada de energia radiante ao mesmo tempo que a Horizontes. Ambas as espaçonaves foram atingidas.
-Tchiamm! Tchiamm! Bumm! Bumm!
O casco inferior de proa da Horizontes estava em chamas. Uma seção da nave inimiga também e ela afastava-se. Tinha de evitar a destruição.
 
Enquanto isso, o cruzador que participava da simulação de combate anteriormente havia surgido do outro lado do sol de Mira e desacelerava. Suas escotilhas superiores abriam-se, mas no momento nada saía de dentro dos orifícios.
-O casco da nave inimiga tem um rombo e seus escudos foram danificados.
-Foi uma excelente manobra.
-Sugiro usar os emissores da proa e concluir com a destruição da nave.
-Concordo. Artilharia fogo!
-Tchiamm! Bumm! Bumm!
A batalha havia sido vencida e agora a Horizontes libertava-se de uma grande ameaça para explorar o sistema solar e encontrar o planeta perdido. Seus eficientes sensores podiam rastrear planetas mesmo há muitos bilhões de quilômetros distante da área de influência gravitacional do Sol de Mira.
IV

Nave do Império Zark
 
-General, aqueles malditos destruíram nosso cruzador! -O arieniano emissário do Imperador e Imediato do General kalar lamentou com fúria. Aconteceu o imprevisto. A poderosa espaçonave discoide foi destruída por falha estratégica.
-A tripulação daquela nave pereceu por incompetência, porém devemos considerar que o Capitão da Horizontes participou da Grande Guerra que começou aniquilando as bases escorpianas no Terceiro Planeta.
-Quais nossas novas instruções?
-Eu estou preparando uma coisa nova. Uma armadilha para tomar aquela nave. Daremos inicialmente espaço a ela. Lembre-se que não podemos arriscar nosso objetivo com ações imprudentes.
-Vamos distrai-los, isolá-los e enviar uma força de desembarque.
-Parece algo difícil de se realizar.
-Difícil, mas não impossível.


À noite, mais por convenção da tripulação, o Capitão e seu Imediato tiveram um pouco de sossego durante um tranquilo jantar, onde puderam dialogar sobre algumas atitudes recentes tomadas por parte da esquadra inimiga que aparentemente se afastava do Sistema de Mira.
-Almirante, as transmissões que rastreávamos pararam e todas as naves da frota de Zark parecem ter desaparecido do sistema. Eu estou considerando que a Liga errou ao considerar a lenda como algo possível e que Zark pretende usar esse setor como base de operações para expandir o seu império. Teríamos, então, um reino de terror.
-Acha possível que Zark esconde uma base aqui?
-Sem dúvida, Almirante. Esses Zark há um século apoiaram os escorpianos para evitar o fim do nosso isolamento e falharam.
-Eu estive na guerra, assim como você, mas a história tem distorções. Agora, eles querem recomeçar com isso. Ah, mas se nesse sistema houver algo que valha nossa proteção não deixarei que Zark tome par si.
Nesse instante, tão prazeroso pela comida apetitosa à mesa, eles não consideravam a possibilidade de a Horizontes ser emboscada. O vinho cinderiano tinha um gosto que fazia o Comandante Thirty segurá-lo na boca por até um minuto. O jantar acabou. Eles voltaram ao comando.
-E ai?
-Tem alguma coisa errada aqui. -Murmurou pensativo o Comandante Thirty.
-Estranho, pois há pouco tempo os sensores indicavam haver várias naves por aqui e se tivessem saltado...
-Teríamos descoberto. -Interrompeu o Capitão Shin. O piloto da nave ao proferir essas palavras essas palavras estava certo.
-Camuflagem? -Argumentou o Comandante Thirty.
-Talvez.
-Ou escondida em algum lugar.
-Em qual? Não há lugar para esconder naves gigantes.

-Devemos contatar o nosso planeta?
-Temos ordens para manter silenciosos os canais hiperespaciais e considero que o que ocorreu pode não se repetir, pois pela Convenção Galáctica uma nave de exploração como a nossa não pode ser atacada.
-Não pode, mas fizeram e motivo eles possuem.
-Preparem o lançamento das sondas para os planetas e vamos usá-las para encontrar as naves inimigas.
Uma nave na tela de radar do console de navegação e um alarme interromperam a reflexão.
-Tam! Tam! Tam! …
-Acho que não é mais preciso, Almirante.
-Alerta Vermelho! Todos para seus postos de batalha! Thirty mande preparar uma nave de serviços para lançar na direção da oscilação que você rastreou quando houver uma oportunidade de distração.
-Sim, Capitão.
-Quero comunicação com aquela nave.
-Temos os canais abertos. Um General imperial comanda.
-Polarize a tela.
-Aqui é o Capitão Ender Shin da nave Horizontes.
Quando a imagem do escorpiano surgiu, Ender Shin surpreendeu-se:
-General Kalar! Éramos... bons amigos desde...
-Há quanto tempo Ender!

O general gravemente prosseguiu:

-Eu serei direto ao assunto. Se vocês não alterarem seu destino e a trajetória da nave, nós não teremos piedade alguma. Atacaremos.

-Virou bandido agora? O que o fez mudar de lado?

-Vocês provocaram destruindo uma nave. Agir da mesma forma e com a mesma intensidade é justificável.

-Discordo.

-Sua resposta?

-Não!

-Atacaremos.

-A transmissão foi encerrada da nave do General. -Informou o Imdediato.

-Capitão, há mais dois cruzadores colocando-se próximos de nós. Estavam ocultados na atmosfera de um planeta gasoso. O esconderijo perfeito.

-A nave do General está energizando suas armas dianteiras.


Enquanto isso, a nave de serviços decolava do hangar principal, cujas portas vagarosamente havia iniciado a abertura.

-Trilhos energizados. Acionando propulsores de impulso.

-Giiiiiibrrrrrr!

-Acelerando.

-Giamm!

A pequena nave aerodinâmica estava no espaço.

-Droga! -Exclamou o piloto por rádio. -Torre, temos um cruzador sob nós.

-Tchiamm!

Na frente da primeira nave, um rastro flamejante cruzou e bateu no costado da Horizontes que estremeceu.

-Brrrrrrr!

Os alarmes interiores dificultavam que os oficiais falassem e escutassem.

-Relatório Comandante.

-Rombo no casco, escudo danificado e perdemos metade da nossa força de propulsão.

-Eles sabiam que lançariamos uma nave. -O Capitão assombrou-se com a possibilidade. -Pode haver um espião a bordo.

-Invasão no hangar.

-Alerta de invasão. Toda equipe de segurança alerta. Intrusos no hangar. -A voz feminina e metálica continuava a falar esse aviso.

Por interfone, o Imediato ordenou:

-Todas as alas temos condição nível três.


O General Kalar esperou uma nave ser lançada para rapidamente enviar suas forças iniciar a abordagem da Horizontes. Os invasores começaram a desembarcar e eram duramente reprimidos pelos soldados da segurança. Uma nave invasora foi atingida por um membro do grupo de combate em gravidade zero.

-Tchiumm! Bumm!

-Abaixem-se!

-Tchiumm.

-Nunca entre sem permissão na minha nave! -Exclamava um dos soldados.

...


O salto interestelar já não podia mais ser realizado. Parte da tripulação preparava-se para se dirigir às áreas de fuga e o Capitão teve a ideia de usar um aparelho ainda em fase experimental para transportar cargas a fim de viajar ao planeta, cujos sensores confirmavam a existência. Ele considerou a nave perdida e não desejava mais recuperá-la, mas completar a missão e salvar a tripulação.
-Conseguiram contato com a equipe de exploração?
-Nada ainda.
-Acompanhe-me.
Ender e Thirty deixaram o comando. Pegaram um elevador em meio à correria de oficiais e à luta corpo a corpo que se aproximava. Felizmente, ela permanecia no hangar principal. Os invasores, por ora, encontravam-se impotentes a bordo.
-Estamos conseguindo deter os soldados no hangar, mas não sei até quando. O General está no hiperespaço há duas horas daqui.
-Comandante, evacue a tripulação da nave se a invasão não puder ser controlada e eu vou completar a missão. -Cruzou uma porta.
-Mas, Almirante?!
O compartimento onde os dois achavam-se estava sendo usado como local de testes a uma nova invenção da Liga Interplanetária.
-Almirante, o Senhor pretende usar o teletransporte quântico?
-Sim.
-Mas, ele só é experimental e apenas para o transporte de cargas, não de pessoas.
-Se o computador armazena na memória a configuração de uma caixa de suprimentos, ele também fará o mesmo comigo.
-Não é seguro, pois o Senhor pode ser reintegrado sem vida.
-Risco válido pelo bem de nosso planeta.
-Escaneie-me e ative.
-Sim, Senhor.
O teletransporte aconteceu, enquanto isso os invasores moviam-se para a ponte de comando. Haviam cabos elétricos soltos do teto, paredes rachadas e queimadas, principalmente no hangar, feridos quedados esperando ajuda médica e oficiais continuando a luta. Era preciso evitar a dominação da ponte de comando e da sala de máquinas. O Imediato após concluir o transporte de seu Capitão voltou ao comando.

-Senhor, o cruzador que enviou a força de abordagem está se afastando.

-Reverter motores, afastar e preparar para disparar o que resta de energia nas armas da proa.
Um planeta pequeno, de atmosfera avermelhada e com nuvens escuras muito quentes, escondido entre as órbitas de dois mundos gasosos gigantes foi o lugar onde Ender Shin rematerializou-se. Ali, um estranho alienígena recebeu-o. A lenda, então, seria verdadeira? Haveria uma raça capaz de impor o fim da tirania de Zark?

-Capitão Ender Shin?

-Fala minha língua! Ótimo!

-Preciso encontrar uma nave que pousou aqui e...

-Sua nave pousou perto de um vulcão ativo e resgatamos sua tripulação. A propósito seja bem vindo ao Planeta Negro. Estamos em meio a um processo de metamorfose planetária aqui, adaptando o planeta para receber habitantes.

-Achamos que poderíamos encontrar aqui uma civilização técnica mais avançada que a qual eu pertenço do Terceiro Planeta ou de qualquer membro da Liga Interplanetária e a solução para nosso conflito com Zark.

-Só há uma base de pesquisa e a nossa nave aqui. -Respondeu o alienígena enquanto caminhavam. -Hum. Vieram atrás de um milagre. Zark tornou-se uma ameaça real a todo esse setor, porém meu governo pode detê-lo e proteger esse setor.

Eles entraram nas instalações de pesquisa. O anfitrião pertencia a uma civilização que vive em Épsilon Eridani. Ender Shin não viu nada que o impressionasse como havia imaginado. Ali, ele encontrou a tripulação da nave de serviços enviada para explorar o planeta.

-Capitão!

-Vejo que todos estão bem e alegro-me!

-Encontramos uma nave Zark na órbita e nosso novo amigo afastou-a.

-Eles queriam este mundo como base para expansão pelo setor, mas não contavam que este sistema pertence a Épsilon Eridani e que nosso governo enviaria uma missão para expulsá-los e garantir a posse definitiva desse mundo.

O alienígena ativou a tela de um computador e disse:


-Sua nave causou sérios danos a um cruzador de Zark e parece estar com pouco danos. Enquanto isso, as outras naves da frota inimiga estão se afastando do sistema e saltando numa área fora do alcance de nossos sensores.

-Isso me alivia.

A imagem captada foi o último ataque com os quatro emissores de radiação desintegradora da proa da Horizontes. A nave inimiga foi despressurizada e precisou ser abandonada. O General Kalar, seu comandante, tinha escapado.

Tempo depois, Ender Shin e a equipe de exploração decolaram na nave de serviço consertada pelos colonizadores daquele mundo que passava por uma mega transformação artificial e voaram para a Horizontes que passava por seus primeiros consertos e manobrava para deixar o sistema de Mira, porém demoraria dias até sua capacidade de salto ser restaurada. Nele, talvez, um novo aliado houvesse sido encontrado. Ali, Zark nunca mais ousaria invadir!


Não é justo escrever fim quando haverão outras aventuras.



No próximo episódio:

Zark faz um bloqueio contra naves da Liga e planeja dominar um mundo com uma civilização em desenvolvimento. Pelo menos, isso era o que se pensava até Ender Shin desembarcar com sua tripulação e descobrir algo novo, inesperado.