Capítulo L (Pág. 105)
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No acampamento, o comandante fazia um gesto
de puro amor pelo Estado do Rio Grande do Sul que sentiu sobre seus
pagos a marcha de grandes exércitos e viu homens valentes lutando em
nome de ideais como liberdade, democracia e igualdade. Era algo
simples, mas muito simbólico para quem sempre viveu nessas terras e
lutou várias batalhas por elas. João passou uma cuia de mate amargo
para um soldado de aparência bem cansada que tentava se aquecer
próximo do fogo de chão que aquentava a água de uma chaleira
encarvoada. Ali, acontecia como em muitos lugares desse rico chão a
‘roda de chimarrão’, enquanto todos os militares esperavam as
carnes espetadas em bambus fincados no chão ao redor da fogueira
terminarem de assar. O calor fazia a água borbulhar e a gordura do
churrasco despencar queimando a grama verde do campo de futebol.
O mate amargo ajudava a aquecer os corpos
cansados de quem tentava combater uma forma maligna cuja aparência
poderia ser de qualquer individuo e também ele aproximava as pessoas
que proseavam acerca de suas vidas como se todo mundo ali presente
conhecesse-se fazia muito tempo. O chimarrão dispensado de um exame
científico para provar o seu efeito psicológico sobre as relações
humanas e passado de mão em mão causava o nascimento de novas
amizades, além de conseguir aprofundar as antigas. Dessa maneira, o
grupo permanecia unido e estabilizado em mais uma noite tranquila que
o inimigo de outro mundo poderia perturbar, mas os soldados não se
aturdiriam, pois eles levantariam suas espadas e seus escudos para a
grande batalha.
Sentir o sabor amargo e suave de um mate
quente cevado com a erva mais pura que existe na companhia dos
melhores amigos tornou-se uma maneira de manter vivos os antigos
ideais que os primeiros gaúchos começaram a cultivar e de lutar
para a sobrevivência de uma cultura enraizada por este chão e cuja
influência estrangeira tenta destruir. Cada cuia passada a uma nova
pessoa traz de volta lembranças de épocas antigas, onde o mal
imperava e a ousadia de muita gente corajosa tentava trazer o bem de
volta a quem sofria por causa da dominação dos mais poderosos. Ela
relembra com honra os indivíduos valorosos que o tempo extinguiu.
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